Folha de S.Paulo

Trump diz que “notícias falsas” da mídia dificultam relação com Rússia

Em entrevista coletiva, ele volta a criticar jornalista­s e afirma querer falar ‘diretament­e ao povo’ Watergate?

- ISABEL FLECK

Para presidente, seu governo herdou uma ‘bagunça’, mas tem funcionado como uma ‘máquina bem regulada’

Uma entrevista coletiva marcada de última hora para anunciar o novo indicado para o Departamen­to do Trabalho dos EUA se transformo­u, nesta quinta (16), no maior embate entre o presidente Donald Trump e a imprensa desde que ele assumiu.

Por mais de uma hora, ele respondeu a perguntas dos jornalista­s. Trump culpou a mídia pela relação ruim com Moscou e condenou os vazamentos de informaçõe­s de inteligênc­ia. Apesar de reconhecer que o conteúdo deles era “real”, disse que as notícias a respeito eram “falsas”.

O republican­o afirmou ainda que pediu ao Departamen­to de Justiça para investigar quem foram os funcionári­os que repassaram, de forma “criminosa”, dados à mídia.

Trump disse haver “ódio” na cobertura da CNN —à qual disse não assistir mais—, criticou a BBC —“outra beleza, como a CNN”— e mandou um jornalista se calar.

Mais cedo, o mandatário havia declarado que os responsáve­is pelos vazamentos à imprensa serão “pegos” e que pagarão um “alto preço”.

Segundo o “New York Times”, o presidente planeja trazer o bilionário Stephen Feinberg, cofundador do fundo americano Cerberus, para fazer uma “revisão” das agências de inteligênc­ia.

Aos jornalista­s, Trump disse ser uma “piada” a reportagem publicada pelo “New York Times”, com revelações feitas por funcionári­os de inteligênc­ia sob anonimato, de que integrante­s de sua equipe teriam mantido contato com membros do governo russo na campanha eleitoral.

“Não tenho nada a ver com a Rússia, não faço um telefonema para a Rússia há anos”, disse. Questionad­o mais de uma vez sobre se algum assessor teria conversado com Sean Spicer, que passa diariament­e por uma sabatina dos jornalista­s, Trump disse que queria falar “diretament­e ao povo americano, com a mídia presente”, porque “muitos dos jornalista­s não vão contar a verdade”.

Segundo ele, seu governo herdou a “bagunça” de Obama dentro e fora do país. “Eu ligo a TV, abro os jornais e vejo matérias sobre caos. É exatamente o oposto. Este governo funciona como uma máquina bem regulada.”

O republican­o afirmou que a reforma fiscal vai acontecer “rapidament­e” e que um “plano inicial” para substituir o Obamacare será enviado em março ao Congresso. Na última semana, ele havia dito que a proposta de mudança ficaria para 2018.

Trump terminou a coletiva dizendo que fará “tudo o que estiver a seu alcance” para acabar com a divisão no país, que teve origem antes dele, disse. E agradeceu aos jornalista­s: “foi uma honra estar com vocês”. “TRUMP COME a imprensa”, manchetou o “Drudge Report”, pró-Trump, sobre a coletiva em que ele se debateu contra a “imprensa desonesta”, “fake news” etc.

É que a imprensa comeu Trump. Foi uma resposta descontrol­ada ao que “Washington Post” e “New York Times” fizeram de seu governo com uma série de notícias sobre contatos com a Rússia —saudada por outros jornalista­s como “guerra de reportagem!” e “jornalismo vive!”.

O “NYT” festejou com relato próprio sobre os “jornalões se batendo por furos”, destacando, do produtor de “Veep” e seu ex-colunista Frank Rich: “Você tem, casada com este novo Oeste Selvagem que é a midiosfera, uma história com proporções de Watergate”.

O “Wall Street Journal” corre atrás de “WP” e “NYT” e também reporta a bagunça, mas seu texto mais lido foi a coluna “Este é o Watergate de Trump?”. Avisa que ele precisa abrir o Salão Oval para “alguém do velho establishm­ent de Washington contar como foi” com Nixon, em 1974.

Os fatos A Fox News tentou fazer um dos repórteres do caso, Bob Woodward, dizer que não é como Watergate, mas ele não caiu: “Há muita especulaçã­o, sim, mas então temos que conseguir os fatos”. A CNN ouviu algo parecido do outro repórter do caso, Carl Bernstein: “Nós não sabemos onde vai parar. O que sabemos é que são alegações muito sérias”.

Alemanha & China A Reuters destacou que, “em mensagem a Trump”, a União Europeia prepara uma cúpula com a China para abril.

No México O “WP” publicou reportagem sobre Andrés Manuel López Obrador, que “cresce para enfrentar a América de Trump”. Bradando contra o americano “neofascist­a”, AMLO já é “o claro favorito” nas pesquisas para 2018.

E no Brasil Uma semana antes, o “WP” deu reportagem sobre Michel Temer, comparando-o a Trump, “um homem branco septuagená­rio que lidera uma reação de direita após uma era de esquerda”. Depois acrescenta ser diferente, porque é “um político de carreira” que, segundo o Datafolha, “mais de metade do país vê como corrupto”.

 ??  ?? O presidente norte-americano durante entrevista de mais de uma hora concedida a jornalista­s na Casa Branca, em Washington, nesta quinta-feira (16)
O presidente norte-americano durante entrevista de mais de uma hora concedida a jornalista­s na Casa Branca, em Washington, nesta quinta-feira (16)
 ?? Reprodução ?? » CAOS Em referência à nova ‘Time’, que usa a expressão, Trump reclamou que a imprensa vê ‘caos’ inexistent­e
Reprodução » CAOS Em referência à nova ‘Time’, que usa a expressão, Trump reclamou que a imprensa vê ‘caos’ inexistent­e

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil