Trump diz que “notícias falsas” da mídia dificultam relação com Rússia
Em entrevista coletiva, ele volta a criticar jornalistas e afirma querer falar ‘diretamente ao povo’ Watergate?
Para presidente, seu governo herdou uma ‘bagunça’, mas tem funcionado como uma ‘máquina bem regulada’
Uma entrevista coletiva marcada de última hora para anunciar o novo indicado para o Departamento do Trabalho dos EUA se transformou, nesta quinta (16), no maior embate entre o presidente Donald Trump e a imprensa desde que ele assumiu.
Por mais de uma hora, ele respondeu a perguntas dos jornalistas. Trump culpou a mídia pela relação ruim com Moscou e condenou os vazamentos de informações de inteligência. Apesar de reconhecer que o conteúdo deles era “real”, disse que as notícias a respeito eram “falsas”.
O republicano afirmou ainda que pediu ao Departamento de Justiça para investigar quem foram os funcionários que repassaram, de forma “criminosa”, dados à mídia.
Trump disse haver “ódio” na cobertura da CNN —à qual disse não assistir mais—, criticou a BBC —“outra beleza, como a CNN”— e mandou um jornalista se calar.
Mais cedo, o mandatário havia declarado que os responsáveis pelos vazamentos à imprensa serão “pegos” e que pagarão um “alto preço”.
Segundo o “New York Times”, o presidente planeja trazer o bilionário Stephen Feinberg, cofundador do fundo americano Cerberus, para fazer uma “revisão” das agências de inteligência.
Aos jornalistas, Trump disse ser uma “piada” a reportagem publicada pelo “New York Times”, com revelações feitas por funcionários de inteligência sob anonimato, de que integrantes de sua equipe teriam mantido contato com membros do governo russo na campanha eleitoral.
“Não tenho nada a ver com a Rússia, não faço um telefonema para a Rússia há anos”, disse. Questionado mais de uma vez sobre se algum assessor teria conversado com Sean Spicer, que passa diariamente por uma sabatina dos jornalistas, Trump disse que queria falar “diretamente ao povo americano, com a mídia presente”, porque “muitos dos jornalistas não vão contar a verdade”.
Segundo ele, seu governo herdou a “bagunça” de Obama dentro e fora do país. “Eu ligo a TV, abro os jornais e vejo matérias sobre caos. É exatamente o oposto. Este governo funciona como uma máquina bem regulada.”
O republicano afirmou que a reforma fiscal vai acontecer “rapidamente” e que um “plano inicial” para substituir o Obamacare será enviado em março ao Congresso. Na última semana, ele havia dito que a proposta de mudança ficaria para 2018.
Trump terminou a coletiva dizendo que fará “tudo o que estiver a seu alcance” para acabar com a divisão no país, que teve origem antes dele, disse. E agradeceu aos jornalistas: “foi uma honra estar com vocês”. “TRUMP COME a imprensa”, manchetou o “Drudge Report”, pró-Trump, sobre a coletiva em que ele se debateu contra a “imprensa desonesta”, “fake news” etc.
É que a imprensa comeu Trump. Foi uma resposta descontrolada ao que “Washington Post” e “New York Times” fizeram de seu governo com uma série de notícias sobre contatos com a Rússia —saudada por outros jornalistas como “guerra de reportagem!” e “jornalismo vive!”.
O “NYT” festejou com relato próprio sobre os “jornalões se batendo por furos”, destacando, do produtor de “Veep” e seu ex-colunista Frank Rich: “Você tem, casada com este novo Oeste Selvagem que é a midiosfera, uma história com proporções de Watergate”.
O “Wall Street Journal” corre atrás de “WP” e “NYT” e também reporta a bagunça, mas seu texto mais lido foi a coluna “Este é o Watergate de Trump?”. Avisa que ele precisa abrir o Salão Oval para “alguém do velho establishment de Washington contar como foi” com Nixon, em 1974.
Os fatos A Fox News tentou fazer um dos repórteres do caso, Bob Woodward, dizer que não é como Watergate, mas ele não caiu: “Há muita especulação, sim, mas então temos que conseguir os fatos”. A CNN ouviu algo parecido do outro repórter do caso, Carl Bernstein: “Nós não sabemos onde vai parar. O que sabemos é que são alegações muito sérias”.
Alemanha & China A Reuters destacou que, “em mensagem a Trump”, a União Europeia prepara uma cúpula com a China para abril.
No México O “WP” publicou reportagem sobre Andrés Manuel López Obrador, que “cresce para enfrentar a América de Trump”. Bradando contra o americano “neofascista”, AMLO já é “o claro favorito” nas pesquisas para 2018.
E no Brasil Uma semana antes, o “WP” deu reportagem sobre Michel Temer, comparando-o a Trump, “um homem branco septuagenário que lidera uma reação de direita após uma era de esquerda”. Depois acrescenta ser diferente, porque é “um político de carreira” que, segundo o Datafolha, “mais de metade do país vê como corrupto”.