Lojas fecham as portas em apoio a imigrantes nos EUA
Ato em várias cidades queria mostrar que país depende de estrangeiros
‘Acho que hoje posso viver sem baguete’, diz cliente de padaria que aderiu a protesto contra Trump em Nova York
A melhor padaria do Upper West Side, em Nova York, amanheceu fechada. Pregado na porta, um pequeno cartaz impresso dizia: “Em apoio ao Dia sem Imigrantes”. E um bilhete escrito a mão completava a mensagem aos clientes: “Love you”.
“Acho que hoje eu posso viver sem minha baguete”, brincou Anne Newton, 59, que deu de cara na porta, mas apoiou a iniciativa.
A Silver Moon Bakery abriu em 2000 como a primeira padaria artesanal do bairro, já foi elogiada pelo “New York Times” e tem filas constantes. O estabelecimento foi um dos que aderiram ao protesto “Um Dia sem Imigrantes”.
De autoria desconhecida, foi divulgado nas redes sociais e pedia que os imigrantes não trabalhassem, não abrissem seus negócios ou fossem à escola, nem comprassem nada nesta quinta (16).
A ideia era a de protestar contra as recentes medidas do governo de Donald Trump na área da imigração e mostrar que o país não funciona sem os estrangeiros.
Lojas e restaurantes não abriram as portas em outras grandes cidades, como Washington, Filadélfia, Los Angeles e Austin. Em Washington e Chicago, houve também manifestações nas ruas.
A rede de restaurantes Blue Ribbon, de Nova York, fechou todas as lojas e anunciou que fazia isso “em respeito aos funcionários e familiares”.
“É um bom jeito de mostrar o quanto os imigrantes são importantes, fechando essa padaria fantástica”, disse a atriz Emily Koch, 25, que também não tomou seu café na Silver Moon.
Já a professora Kate Marino, 68, não gostou de ficar sem o pão de leite que iria levar. “Estão confundindo as coisas. É uma questão de segurança, e não algo contra os imigrantes”, disse, referindose às políticas de Trump.
A Silver Moon fica na Broadway, na esquina com a rua 105 Oeste. A região, perto do Harlem, tem muitos imigrantes, principalmente latinos. Mas a maioria estava trabalhando. “Se tivesse ficado sabendo antes, não teria vindo”, disse a dominicana Maria Parede, 36, que é caixa de um supermercado.
DE WASHINGTON
O Departamento de Justiça dos EUA anunciou nesta quinta-feira (16) que desistiu da batalha na Suprema Corte para retomar o decreto que proibia temporariamente a entrada de cidadãos de sete países de maioria muçulmana.
A ordem executiva do presidente Donald Trump foi derrubada pela liminar concedida no dia 3 por um juiz de Seattle e referendada seis dias depois por decisão da Corte de Apelações de San Francisco.
No documento entregue aos tribunais, o governo afirma que o veto à entrada apenas de pessoas que nunca estiveram nos EUA, em vez de residentes no país e pessoas que retornaram, não enfrentaria dificuldades legais.
“Fazendo isso, o presidente abre caminho para proteger o país imediatamente em vez de buscar um litígio que possa consumir muito tempo”, dizem os representantes do governo na petição.
A citação pode dar uma pista do que o republicano disse que pretende fazer na próxima semana, quando deve assinar um novo decreto para proteção do país, anunciado em entrevista coletiva nesta quinta.
“Tivemos um tribunal ruim, que teve uma decisão ruim”, disse Trump. “O novo decreto estará muito mais preparado para o que eu considero ser uma decisão ruim.”
O decreto derrubado previa a suspensão, por 90 dias, da entrada de cidadãos nascidos em Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Síria, Somália e Sudão. Também determinava um veto de 120 dias à entrada de refugiados, com exceção dos sírios, para os quais a medida valia por tempo indeterminado. (ISABEL FLECK)