Folha de S.Paulo

Nº 700”, escreveu um oficial de Justiça em março de 2016.

- ARTUR RODRIGUES LEANDRO MACHADO

DE SÃO PAULO

Não tem sido fácil encontrar Paulo Vitor Sapienza, 54, prefeito regional do Butantã, distrito da zona oeste paulistana. Quem afirma isso é a Justiça de São Paulo.

Indicado ao cargo pelo prefeito João Doria (PSDB), Sapienza foi citado em 42 ações ou procedimen­tos judiciais. Entre eles, foi processado sob a acusação de não pagar dívidas, de fraude em um imposto estadual e de crime ambiental depois que uma área de mata atlântica foi desmatada perto de sua casa.

A convite de Doria, Sapienza assumiu em 1º de janeiro a cadeira de prefeito regional do Butantã em um prédio da rua Ulpiano Costa Manso, 201. Um mês depois, em 2 de fevereiro, a Justiça afirmou que o paradeiro dele era desconheci­do.

Nesse dia, ocorreu uma audiência de um dos processos a que Sapienza responde. Segundo a acusação, ele e outras duas pessoas fraudaram o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadoria­s e Serviços) em 2001 e 2002, quando administra­vam a empresa de combustíve­l Metron, em Paulínia (a 117 km de SP).

De acordo com o Ministério Público, o trio adulterou livros de registros da companhia para omitir transações financeira­s —a operação foi repetida 266 vezes. Com a fraude, a empresa deixou de pagar R$ 353.888 de ICMS (R$ 1,1 milhão em valores atuais), de acordo com a Promotoria.

Um dos réus morreu antes de o processo começar. Outro negou a fraude, dizendo que não tinha acesso aos livros de registro da empresa. Sapienza, porém, não apresentou defesa e não apareceu em audiências na Justiça.

À Folha, em nota, ele afirma que sua assinatura foi falsificad­a nos livros. A Justiça, no entanto, afirma que existem provas contra ele, mas que o crime já prescreveu.

“O paradeiro do réu Paulo Vitor Sapienza é incerto e não sabido, e citado por edital para responder a acusação, quedou-se inerte”, escreveu o juiz Carlos Eduardo Mendes, em 2 de fevereiro deste ano.

“Dirigi-me ao endereço fornecido e deixei de citar o réu, pois não foi possível localizar o nº 4.011 na referida rua, já que a mesma termina no MATA ATLÂNTICA A Justiça também teve dificuldad­e para encontrar o agora prefeito regional durante outro processo. Em 2000, segundo a Promotoria, Sapienza desmatou sem autorizaçã­o uma área de mata atlântica em São Roque (Grande SP), onde ele morava. No local, construiu uma capela.

Segundo o Ministério Público, o corte “feito com machado” causou danos à fauna e à flora da região.

Sapienza foi condenado a replantar 5.000 mudas e a demolir o que havia construído. Meses depois, o Ministério Público constatou que ele não havia reparado o dano apontado. A Justiça então determinou uma multa diária até ele cumprir a medida.

Demorou 213 dias para ele cumprir, segundo o relatório da Promotoria. Ao final, Sapienza já devia R$ 272.193 em multa. Para receber a dívida, a Justiça procurou bens em nome do político para penhora. Encontrou apenas um carro Kia Soul vermelho.

Quando finalmente um oficial conseguiu encontrá-lo para penhorar o veículo, Sapienza afirmou que já havia vendido o carro. DEVEDOR Em 2009, o hoje aliado de Doria se envolveu em outro processo. Ele convenceu o empresário Carlos Augusto Simonian, 65, a emprestar o nome para a compra de um Ford Explorer, por R$ 50 mil.

Segundo a acusação, o atual prefeito regional não pagou o veículo, e o nome do empresário foi parar em cadastros de devedores —ele diz que pagou. O carro foi multado várias vezes, e Simonian é quem recebe as punições.

O empresário pediu indenizaçã­o por danos morais. A Justiça não atendeu, mas decidiu, em 2016, que o prefeito regional deveria passar o carro para seu nome em dez dias —o que não foi feito.

O empresário Simonian continua a receber multas do carro —em janeiro, tinha 94 pontos na carteira. Diz que gasta por volta de R$ 2.000 por ano com advogados para conseguir permissão para dirigir junto ao Detran. FICHA LIMPA Paulo Vitor Sapienza foi um fiel defensor de João Doria nas prévias do PSDB que escolheram o empresário como candidato a prefeito.

Ele chegou a fazer vídeos

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