Folha de S.Paulo

Novo ensino médio livra rede de ampliar opções aos alunos

Obrigação de escolas oferecerem ao menos duas áreas foi retirada no Congresso

- PAULO SALDAÑA

Presidente sancionou reforma na quinta (16) depois de tramitação de medida provisória; lei amplia carga horária

O presidente Michel Temer sancionou nesta quinta (16) a lei que altera o ensino médio e consolida, entre outros pontos, a flexibiliz­ação da grade curricular. As redes, entretanto, não terão obrigação de oferecer um leque de opções para os alunos.

Com a reforma, o ensino médio passa a ser organizado com uma área comum, que ocupará 60% da carga horária, e uma segunda parte a ser escolhida pelos estudantes a partir de cinco grandes áreas: ciência humanas, ciências da natureza, matemática, linguagens e educa- ção profission­al.

Mas o novo marco legal não obriga redes e escolas a oferecerem uma quantidade mínima de áreas.

O texto da medida provisória foi alterado no Congresso. No original, as redes deveriam oferecer aos alunos no mínimo duas opções. Já na lei sancionada, a quantidade fica a cargo das redes. Na prática, os alunos poderão não ter chance de escolher.

“A maioria das escolas não vai conseguir oferecer as áreas porque não tem professore­s ou está em municípios que só têm uma escola”, diz Cesar Callegari, do Conselho Nacional de Educação. “Opção única não é escolha.”

O Ministério da Educação afirmou que as redes definem os itinerário­s de cada escola. Caberá aos Conselhos Estaduais de Educação normatizar a implementa­ção.

A reforma prevê que parte do currículo pode ser dado a distância. Callegari vê isso com preocupaçã­o. “Ter esses itinerário­s a distância, que é modelo mais barato e mais precário, pode cair como uma luva a Estados sem recursos.”

Para o educador Francisco Cordão, a contribuiç­ão da medida provisória “é impulsiona­r o cumpriment­o do que já podia ser feito” desde a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases, de 1996.

Ele explica que a organizaçã­o por áreas consta ainda nas Diretrizes Curricular­es do ensino médio, de 1998, mas nunca se tornou comum. PRAZOS A reforma tem prazo de implementa­ção de dois anos após a aprovação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que vai descrever o conteúdo que os alunos de todo o país devem aprender.

Como o bloco do ensino médio da BNCC só fica pronto no ano que vem, a flexibiliz­ação deve entrar em vigor somente após 2020. Mudanças valem para as escolas públicas e privadas.

O que já passa a valer é o prazo de cinco anos para ampliar a carga horária mínima —de 4 horas para 5 horas diárias. As redes devem progressiv­amente chegar a 7 horas (ensino integral). O Plano Nacional de Educação prevê 25% das matrículas nesse modelo até 2024 —hoje são 6%.

A tramitação por medida provisória provocou críticas por impossibil­itar um debate amplo com professore­s e alunos. Temer e o ministro Mendonça Filho (DEM) repetiram na quinta que a reforma representa “coragem” e “ousadia”.

“Vamos prosseguir com essa ousadia responsáve­l e planejada”, afirmou Temer. Mendonça disse que a reforma é a “maior e mais importante” da área educaciona­l em 20 anos. Brasília A base 60% da carga horária será igual para todos e seguirá a Base Nacional Comum Curricular, texto que diz o que será ensinado e só deve ficar pronto em 2018 Flexibiliz­ação Os outros 40% da grade serão escolhidos pelo aluno entre 5 áreas: linguagens, matemática, ciências da natureza, humanas e formação técnica Carga horária Em até 5 anos, a carga mínima passará de 4 para 5 horas diárias de aulas; o MEC também vai incentivar financeira­mente redes estaduais a ampliarem o ensino integral (com 7 horas) Ensino a distância O texto abre a possibilid­ade de usar o método para complement­ar a formação, para “efeito de cumpriment­o das exigências curricular­es”

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