Filme tem boa ideias e intenções, mas desdobramentos o tornam arrastado
FOLHA,
No seu novo filme, “A Cura”, o diretor Gore Verbinski tentacompreenderaobsessão modernaporsucessoedinheiro. Ele utiliza um ganancioso corretor de Wall Street para desvendar essa “doença”.
Lockhart (Dane DeHaan), como o cineasta define, é um “matador, alguém que fará qualquer coisa para fazer partedadireçãodasuaempresa”.
Mas uma linha paralela pode ser traçada entre o personagem e o homem responsável pelo sucesso de “The Ring” e “Piratas do Caribe”.
Nos primeiros minutos de “A Cura”, Lockhart é enviado para a Suíça na tentativa de “resgatar” o sócio majoritário da sua empresa, que precisa aprovar uma fusão bilionária, mas está internado em um estranho spa nos Alpes. Se ele cumprir a missão, será promovido e chegará ao topo da cadeia alimentar financeira.
“É um lugar onde você poderia encontrar Dick Cheney na sauna”, brinca o diretor, referindo-se ao empresário e vice-presidente americano da era George W. Bush. “É um lugar para os mais ricos, oligarcas que passam duas semanas para se curar de alguma doença, mas que não conseguem sair, porque nem sabem se querem ser curados.”
O thriller segue uma inspiração kubrickiana, quando o espectador é levado para es-
O trailer de “A Cura” já apontava para um filme que poderialembrarmuito“AIlha do Medo” (2010), de Martin Scorsese, no qual Leonardo DiCapriointerpretaumpolicialqueinvestigaumcrimenum asiloparacriminososinsanos, com final surpreendente.
Realmente, as duas produções têm muitas semelhanças, no enredo e no clima tenso. Mas “A Cura” exibe três problemas: Gore Verbinski não é Scorsese, Dane DeHaan não é DiCaprio, e ninguém encontrou uma boa saída para encerrar o filme.
Natrama,obilionárioPembroke, presidente de uma megacorporação americana, vai se tratar em um spa isolado na Suíça e resolve não voltar. Manda cartas meio amalucadas para sua diretoria, que necessita da presença dele para concluir uma fusão.
O jovem executivo Lockhart é enviado com a missão de trazer o chefão de volta. Ao chegar à clínica, encontra um castelo digno do conde Drácula. Os funcionários são assustadores, e os pacientes são milionários sessentões atrás da “cura”, nome dado aos benefícios do tratamento com a água do lugar.
O médico-chefe, Volmer, reluta em deixar que ele veja Pembroke no mesmo dia, então Lockhart desce a montanha de carro para voltar no dia seguinte. Mas sofre um acidente e acorda três dias depois, com a perna engessada e já paciente do lugar.
Oroteiroinserealgumasboas cenas de sustos e alucinações, e DeHaan se esforça para dar o tom certo na progressivadesintegraçãopsicológica de Lockhart, outra semelhança clara com o personagem de DiCaprio no outro filme.
Não faltam boas intenções em “A Cura”. Na verdade, elas sobram. À procura de sustos, o roteiro exagera nos apuros de Lockhart. São tantos desdobramentos que o filme se arrasta por duas horas e meia, perdendo várias oportunidades de fechar a trama. O final, quando chega, deixa várias perguntas no ar. Será que vem aí “A Cura 2”? (A CURE FOR WELLNESS) DIREÇÃO Gore Verbinski ELENCO Dane DeHaan, Mia Goth, Jason Issacs PRODUÇÃO EUA, 2016, 16 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO regular se estranho hospital comandando por um médico excêntrico (Jason Isaacs). E desvia para um processo mais misterioso ao começar a mostrar que a tal cura que mantém os ricaços jovens pode ser pior que a doença que os aflige.
Verbinski diz que a necessidade de seguirmos padrões impostos pela sociedade foi uma das inspirações para a ideia que escreveu junto do roteirista Justin Haythe. “O filme leva o espectador pelo escuro, para seu lado sombrio que ninguém quer encarar.”
Essa insatisfação tem uma fonte menos rebelde. Verbinski, assim como seu personagem, estava numa ascensão inebriante.Transformou“Piratas do Caribe” numa franquia bilionáriaeganhouoOscarde melhor animação com “Rango”(2011).“Saíde‘Piratas’porque eu não tinha mais o que aprender ou crescer”, conta.
Mas então veio “O Cavaleiro Solitário” (2013), que foi massacrado pela crítica e causou um prejuízo de US$ 190 milhões à Disney. “A vida encontra um jeito de te deixar humilde”, afirma Verbinksi, que foi filmar “A Cura” na Alemanha.