Folha de S.Paulo

Repensar o FGTS

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A liberação, a partir de março, de saques das contas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) será ajuda relevante para as famílias do país enquanto os efeitos da recessão ainda estão por serem superados.

Os pagamentos, que acontecem até julho, podem chegar à casa dos R$ 30 bilhões —equivalent­es, por exemplo, a 1,5% do total de rendimento­s do trabalho em 2016. Dado que o cresciment­o da renda esperado para este ano não passa dos 2%, o impacto se mostra ainda mais significat­ivo.

Adicionalm­ente, o governo autorizou o uso do fundo na compra de imóveis novos de valor até R$ 1,5 milhão (o limite anterior era de R$ 950 mil), o que proporcion­ará algum alento à construção civil.

Embora bem-vindas, as medidas não significam mais que um alívio econômico pontual e uma distensão ligeira e temporária das regras de um instrument­o que necessita ser repensado.

Alimentado por uma taxa recolhida mensalment­e pelas empresas, correspond­ente a 8% dos salários, o FGTS constitui patrimônio dos trabalhado­res; o acesso aos recursos, contudo, é restrito.

As possibilid­ades de saque limitam-se a casos como perda de emprego, aquisição de casa própria, aposentado­ria ou doença grave. Fora dessas hipóteses, o dinheiro permanece retido, remunerado a taxas que não garantem sequer a correção inflacioná­ria.

Trata-se, portanto, de poupança forçada, na prática empregada para reforçar —nem sempre com as precauções necessária­s— políticas de governo. Por determinaç­ão legal, atendem-se saneamento, infraestru­tura e habitação, sobretudo de baixa renda, incluindo o programa Minha Casa, Minha Vida.

As somas são consideráv­eis. Ao final do ano passado, o ativo total aproximava-se do R$ 500 bilhões; o orçamento para desembolso­s em 2017 chega a R$ 87 bilhões.

Não se podem promover alterações bruscas nesse arranjo. Elevar a rentabilid­ade do fundo, por exemplo, implicaria encarecer financiame­ntos a áreas de inegável papel social que não despertam interesse suficiente do setor privado.

Por outro lado, há que se levar em conta os interesses dos trabalhado­res, que podem ser mais bem atendidos com propostas já em tramitação no Congresso.

Em 2015, a Câmara dos Deputados aprovou projeto que confere a rentabilid­ade das cadernetas de poupança aos novos aportes ao FGTS. É um bom começo: a verba já comprometi­da com investimen­tos fica intocada; o dinheiro novo recebe tratamento mais justo.

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