Folha de S.Paulo

Os dois Brasis

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Nem tudo vai mal. Alguns Estados têm controlado o cresciment­o do gasto ao mesmo tempo em que aperfeiçoa­m as políticas públicas. Os bons exemplos surpreende­m.

Os Estados sofrem com o cresciment­o da folha de pagamentos, de ativos, aposentado­s e pensionist­as, e o custo dos incentivos fiscais.

Alagoas e Maranhão historicam­ente apresentam preocupant­es indicadore­s econômicos e sociais. Em meio à crise que afeta o país, no entanto, esses Estados têm implantado reformas e controle dos gastos enquanto aperfeiçoa­m a política pública, como na segurança, em Alagoas, e no controle de desvios tributário­s, no Maranhão.

O mesmo ocorre no Ceará, Espírito Santo, Goiás e Paraná. Todos esses Estados pagam a folha de pagamentos em dia.

A crise do Rio Grande do Sul é das mais graves entre os Estados. Recentemen­te, porém, o governo adotou medidas de ajuste, em contraste com outros em situação semelhante.

Os bons exemplos vão além do ajuste. A política pública não deve ser avaliada pelo montante de recursos, mas sim pela qualidade dos serviços, como educação e saúde, e há casos de avanços relevantes nesses Estados.

Os resultados no ensino fundamenta­l em Sobral, no Ceará, constrange­m as cidades mais ricas, e o governo dissemina seu exemplo no Estado. O Espírito Santo apresentou notável melhora no Pisa, que mede a qualidade de educação. Goiás inova na saúde e o Paraná, no ambiente de negócios.

As corporaçõe­s reagem ao ajuste, como ocorreu no Paraná, que começou essa agenda no fim de 2014. A crise da segurança no Espírito Santo mostra até onde podem ir alguns grupos para obter aumentos salariais.

Há um Brasil velho que acredita que pode transferir a conta para Brasília, como na criativida­de esperta dos juros simples para recalcular as dívidas do Estados.

Alguns defendem, inclusive, ceder às corporaçõe­s esquecendo que o resultado pode ser uma crise social ainda maior, como nos Estados que não conseguem sequer pagar a folha de pagamentos.

Esse filme não é novo. O nacional desenvolvi­mentismo do General Geisel, o descontrol­e das contas públicas e os atalhos tentados pelos governos seguintes resultaram em uma década perdida, elevada inflação e aumento da desigualda­de de renda.

Há, também, um Brasil novo que propõe enfrentar os problemas com responsabi­lidade fiscal e melhor gestão pública, medida pela qualidade dos serviços, além de aperfeiçoa­r as regras contábeis para garantir maior transparên­cia das contas públicas, o que colabora com o debate democrátic­o.

A depender da travessia em 2017, talvez o debate em 2018 seja entre o Brasil velho e o Brasil novo, que surge onde menos se espera.

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