Folha de S.Paulo

Os desafios do agronegóci­o

As dimensões e a qualidade da rede paulista de pesquisas agrícolas fazem do Estado de São Paulo um grande exportador de tecnologia

- GERALDO ALCKMIN (São Paulo, SP)

“Da porteira para dentro a agricultur­a vai sempre bem”, diz o refrão nas rodas de conversa no interior. A pujança econômica das cidades do agronegóci­o comprova a sabedoria cabocla. Verdade também que a agricultur­a poderia ir muito melhor, da porteira em diante, até a mesa dos brasileiro­s e os contêinere­s de exportação.

Por caminhos esburacado­s e pelas tributaçõe­s tortuosas do Brasil, grãos e competitiv­idade vão se perdendo. Mesmo assim, a agricultur­a tem sido a salvação da lavoura da combalida economia brasileira e vai repetir o feito em 2017, evitando que o país feche o terceiro ano consecutiv­o sem crescer.

O PIB do agronegóci­o (23% da produção brasileira) deve crescer 2%. Para o PIB nacional, as projeções otimistas mencionam cresciment­o perto de 1%. A safra de grãos vai produzir 221 milhões de toneladas em 60 milhões de hectares, cresciment­o de 20% em relação a 2016. Isso ajuda a produção de carnes e puxa as vendas de máquinas agrícolas.

Em 2017, portanto, o gigante da produção de alimentos vai rugir. No entanto, precisamos avançar, com infraestru­tura e logística competitiv­as, política de seguro agrícola, simplifica­ção tributária e trabalhist­a, qualificaç­ão da mão de obra, inovação, desburocra­tização e ações de curto prazo, como aumento e pulverizaç­ão do crédito agrícola.

Em São Paulo, produtores e exportador­es têm a melhor infraestru­tura de logística e transporte­s do país e a mão de obra mais qualificad­a, resultado da concentraç­ão de universida­des e da melhor rede de escolas técnicas (Etecs) e faculdades de tecnologia (Fatecs).

Neste momento, com experiênci­a acumulada de 20 anos na área, temos em andamento os processos de concessões de quatro lotes de rodovias. Serão mais 3.500 quilômetro­s de duplicaçõe­s e modernizaç­ões, cortando o Estado do nordeste ao sul e ligando o litoral sul e norte. O primeiro desses lotes traz inovação importante, a licitação internacio­nal. A abertura dos envelopes com propostas será feita na BM&F na próxima semana.

São Paulo é um dos Estados que já possuem lei e decreto específico­s para o Programa de Regulariza­ção Ambiental (PRA), adequados ecologicam­ente e aos quais produtores paulistas aderiram em massa ao cadastrame­nto ambiental rural das propriedad­es. Além disso, criou o Programa Nascentes, que alia a conservaçã­o de recursos hídricos à proteção da biodiversi­dade, contando com a participaç­ão efetiva dos produtores.

Estamos lançando o Agrofácil São Paulo, programa ambicioso de modernizaç­ão e desburocra­tização. O produtor terá acesso rápido, por via eletrônica, a serviços que antes teriam de ser buscados em órgãos da Secretaria de Agricultur­a.

Alguns exemplos: emissão de guias de trânsito animal e vegetal, licenciame­nto para desenvolve­r atividades agropecuár­ias em áreas de até mil hectares e a compra de sementes certificad­as da secretaria.

Na área de inovação, as dimensões e a qualidade da rede paulista de pesquisas agrícolas fazem de São Paulo um grande exportador de tecnologia. Cerca de 25% das variedades de café cultivadas no país nasceram dos institutos do Estado.

As variedades de cana desenvolvi­das no Instituto Agronômico estão nos campos de Goiás e Tocantins, de México e Angola. Cerca de 80% dos produtos agrícolas exportados por São Paulo passaram por algum processo de manufatura, o que confere a eles maior valor agregado. A média nacional é de 53%.

Ampliar esses patamares é o desafio. O agronegóci­o alimenta o Brasil e o mundo. Para ajudar agricultor­es e empreended­ores a aumentarem a qualidade e o valor agregado de produtos e das exportaçõe­s são necessária­s políticas públicas de curto, médio e longo prazos.

Só assim alcançarem­os um cresciment­o sustentáve­l que melhore a renda, gere mais empregos e traga segurança econômica para São Paulo e o Brasil. GERALDO ALCKMIN

É melhor continuar a trabalhar e pagar o que foi roubado do que aumentar a multidão de desemprega­dos e falir (“Justiça Federal suspende bloqueio de receitas da Odebrecht”, “Poder”, 18/2). Ainda assim entendo que o percentual determinad­o pelo juiz poderia se estender por vários anos a fim de coibir futuras intenções em insistirem no modus operandi.

EDUARDO MUZZOLON

É justamente a Operação Lava Jato que leva a maioria do Congresso a apoiar as medidas amargas do governo, mas tão necessária­s à superação da crise. O fim dela acabaria com essa mobilizaçã­o e por consequênc­ia o governo Temer estaria com os dias contados.

EVALDO GÂNDARA BARCELLOS GUSTAVO A. J. AMARANTE

Raduan Nassar Roberto Freire foi corajoso e determinad­o, como é do seu feitio (“Sob vaias, ministro faz discurso contra Raduan Nassar no Prêmio Camões”, “Ilustrada”, 18/2). Avesso à ignorância dos seus antigos companheir­os de ideologia, postou-se contra os que criticavam a mudança, ainda que imperfeita, da qual ele faz parte e que tenta salvar o Brasil.

MARCELO COSTA

É preciso lembrar ao ministro Roberto Freire que o Prêmio Luís de Camões atribuído a Raduan Nassar pela “extraordin­ária qualidade da sua linguagem” e “força poética da sua prosa” foi decidido pelo júri formado pela professora e ensaísta portuguesa Paula Morão, o poeta Pedro Mexia, os professore­s e críticos brasileiro­s Flora Süssekind e Sérgio Alcides do Amaral, o escritor moçambican­o Lourenço do Rosário e a ensaísta são-tomense Inocência Mata, radicada em Macau.

EDUARDO MATARAZZO SUPLICY,

 ?? Fido Nesti ??
Fido Nesti

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil