Sigilo e compromisso
Em que pese a indignação popular e da própria classe médica, é preciso cautela para não promover a condenação sumária
Recente episódio envolvendo quebra de sigilo e ofensas a uma paciente causou grande comoção popular e revolta entre médicos paulistas. Há uma grande pressão aos órgãos de investigação, entre eles o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), para que ocorra o açodamento dos ritos de investigação.
Em que pese a indignação popular e da própria classe médica, é preciso ter cautela para não promover a condenação sumária dos envolvidos.
O Cremesp foi criado para reger a atuação na medicina, dentro de preceitos éticos e bioéticos universais. Vem fazendo isso há 60 anos. De 2000 a 2016, foram instaurados 12.837 processos contra 9.027 médicos.
A partir do momento em que uma denúncia chega ao conhecimento do conselho, ela percorre todos os caminhos previstos pelo Código de Processo Ético-Profissional.
De início há uma sindicância para inquérito e averiguação do fato denunciado. Se forem constatados indícios de infração de um ou mais artigos do Código de Ética, passa-se à fase processual, na qual denunciantes e denunciados têm asseguradas iguais oportunidades de apresentar provas ou razões de acusação e de defesa, inclusive com a presença de advogados. Ao final, o julgamento do profissional deve ser homologado pela plenária de conselheiros.
É neste momento, e somente nele, que o médico será julgado e receberá uma das cinco sanções previstas em lei federal, em caso de culpa. Dos órgãos que exercem um papel julgador, espera-se um rito isento e correto, como desfecho da busca incessante de aproximar-se, o mais possível, da verdade.
Diante de um fato gravíssimo como os noticiados recentemente, uma investigação prudente e exaustiva torna-se primordial. É preciso, contudo, também entender que acontecimentos dessa magnitude merecem mais do que uma sentença punitiva.
Diante de fatos assim se exige maior atenção e cuidado para detectar quais motivações internas ou ambientais predispuseram ao erro e quais o desencadearam.
O sigilo profissional é, desde há milênios, cláusula pétrea da medicina, de importância imensurável para a consolidação da aliança terapêutica, condição essencial para a resolução do tratamento.
Vivemos um momento difícil e instável no país e no mundo, com diversos enfoques e ideias concorrentes que se põem (por natureza ou interesse) como inconciliáveis, uma polarização apaixonada, ou mesmo fabricada, que permite e deflagra todo e qualquer julgamento por qualquer pessoa.
Problemas que parecem pontuais e isolados, no mais das vezes, não o são. Em suas origens e repercussões, o simples se faz complexo, e tal complexidade pode ainda mais, nas redes sociais, fragmentarse em mil e um pedaços longínquos e dispersos.
O Cremesp tem um papel a um só tempo de justiça e de construção. Vai cumpri-lo com a mesma lisura e seriedade com que costumeiramente o faz em todos os seus trabalhos. É o nosso compromisso com a medicina e com a sociedade. MAURO ARANHA, Instituto Butantan A coluna “Painel” publicou em 13/2 duas notas inverídicas sobre o Butantan e a empresa Cellavita, mas a Folha limitou esta resposta a 500 caracteres. O acordo firmado com a Cellavita —que teve parecer jurídico favorável e foi ratificado por André Franco Montoro Filho, então presidente da Fundação Butantan— prevê que toda a propriedade intelectual seja dividida igualmente e que 100% dos royalties (2% sobre a receita líquida de eventual exploração comercial) sejam destinados ao Butantan.
JORGE KALIL,
Samba Só por ser de Lira Neto já seria prenúncio de que o livro daria samba, com o perdão do trocadilho. Com a crítica franca e aberta de Luiz Fernando Vianna (“Sem tentar esgotar tema, livro aborda o essencial do samba”, “Ilustrada”, 18/2), sabemos que teremos à disposição uma obra de fôlego sobre a história deste ritmo plasmado em nossa terra, fruto inequívoco de nossas múltiplas culturas. Sem ler o primeiro, fica a angústia de quando sairão os próximos volumes.
ADILSON ROBERTO GONÇALVES
Folha, 96