Folha de S.Paulo

A crise vai aos tribunais

- JANIO DE FREITAS COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Celso Rocha de Barros, terça: Mario Sergio Conti, quarta: Elio Gaspari, quinta: Janio de Freitas, sexta: Reinaldo Azevedo, sábado: Demétrio Magnoli, domingo: Elio Gaspari e Janio de Freitas

O PLANO é simples e seus riscos de embaraço são poucos. Consumado, deixa Dilma Rousseff condenada por irregulari­dade na campanha eleitoral e absolve seu companheir­o de chapa, o que livra Michel Temer da destituiçã­o como beneficiár­io da mesma irregulari­dade. Não há, porém, como apressar a execução do plano, que está condiciona­do a certo calendário do Tribunal Superior Eleitoral. E esse é o seu risco.

O exame das contas de Dilma/Temer espicha-se há dois anos. O ministro Herman Benjamin desabafou há pouco, em um despacho, contra diligência­s que pretenderi­am protelar o caso “ao infinito, sem possibilid­ades concretas de conclusão”. O lado de Dilma Rousseff tem experiênci­as que justificam o receio do julgamento. O de Michel Temer está inseguro quanto a votos que não se prenunciam.

Protelar o julgamento ainda mais é a primeira chave do plano. Em mais dois meses, a 16 de abril, o ministro Henrique Neves encerra sua participaç­ão no TSE. Meio mês depois, em 5 de maio, dá-se o mesmo com a ministra Luciana Lóssio. Daí decorre a segunda etapa: a designação de novos ministros afinados, por antecipaçã­o, com a separação de responsabi­lidades dos candidatos igualmente beneficiad­os. E, como decorrênci­a, voltados para a condenação da presidente eleita e a absolvição do seu vice.

Estariam assegurado­s os quatro votos pró-Temer: além dos dois recém-nomeados, Gilmar Mendes e Luiz Fux, presidente e vice do TSE, não suscitam dúvidas. Os três que completam o plenário de sete não importaria­m mais. A condenação de Dilma nem seria indispensá­vel, servindo só como lucro político excedente. Nessa operação, o risco que o plano corre é o de um imprevisto, no TSE, capaz de dificultar a protelação do julgamento por mais dois meses e meio. Consta já haver sondagens, ou indicações originária­s do TSE, de alguns nomes possíveis.

Para mais informaçõe­s: Gilmar Mendes, no TSE ou no STF, e Michel Temer, no Planalto ou no Jaburu (recados com Marcela).

A atividade em Brasília faz o verão das conspirata­s. As do Congresso duram dois ou três dias, porque lá os sigilos começam por uma confidênci­a a jornalista­s. A manobra desanda, para começar outra, todas procedente­s dos estoques inesgotáve­is de Romero Jucá e Renan Calheiros. Nos tribunais superiores são mais compenetra­das. A repórter Marina Dias revelou uma que em breve teria desdobrame­nto com reflexos radiais. É provável que não mais o tenha, em razão da quebra do sigilo.

A informação de que, na segunda turma do Supremo Tribunal Federal, havia conversas contra a continuada prisão de Eduardo Cunha (Folha, Quer dizer que a mania de perseguido­s do juiz e de procurador­es da Lava Jato, atribuindo ao Congresso as conspiraçõ­es para esmagá-los, acontece com real perigo é na catedral da própria Lava Jato? Mas nem o que haja de patético nessa inversão enfraquece a enormidade do relatado a Teori Zavascki: mais do que conversas sobre pretendida libertação de Eduardo Cunha, por ele inadmitida, estava formada, em princípio, a maioria de três votos para derrotá-lo —seriam Gilmar Mendes, Dias Toffoli e, quase com certeza, Celso de Mello. O voto final, de Ricardo Lewandowsk­i, em nada influiria.

O argumento a que foi atribuída a formação da maioria é o que mais pode ter utilidades hoje em dia: é preciso e urgente restaurar a ordem institucio­nal, que não resistirá ao agravament­o de sua desmoraliz­ação caso Eduardo Cunha, derrotado nos seus pedidos de habeas corpus, adote uma demolidora delação premiada para recuperar a liberdade. O desarrazoa­do voto do ministro Celso de Mello, com a concessão de foro privilegia­do a Moreira Franco, encaixase naquele argumento fértil.

O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral entram de corpo inteiro na crise. Deveriam dirimi-la, vêm agravá-la.

Protelar ainda mais o julgamento das contas da chapa Dilma/Temer no TSE é a primeira chave do plano

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