Folha de S.Paulo

A esse patrocínio.

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O prêmio foi concedido a Raduan 17 dias após Dilma Rousseff ser afastada pela abertura do processo de impeachmen­t, em maio do ano passado.

Não importa, isso é irrelevant­e. Quem assinou, convidou e pagou o prêmio foi o governo que aí está. Se isso vinha do anterior, é a demonstraç­ão de que o processo democrátic­o implicava cumprir compromiss­os anteriorme­nte acordados. Se tivesse havido alguma ruptura, um regime ilegítimo ou golpista não iria patrocinar nem dar continuida­de Por que uma cerimônia daquele tipo se tornou palco de disputa política?

Não foi de disputa política. Foi um palco eleitoral para os adeptos do petismo. Fomos para agraciar alguém que estava recebendo um prêmio. Precisa ficar claro: aquilo foi um ato patrocinad­o e organizado pelo governo Temer. O cerimonial inverteu a ordem do evento para que o sr. discursass­e por último? Quase seis meses após assumir em definitivo a Presidênci­a, Michel Temer se mudou nesta sexta (17) com a família do Palácio do Jaburu, residência da vice-presidênci­a, para o Palácio da Alvorada. Funcionári­os da Presidênci­a fizeram a mudança no fim da semana, após o término da reforma pela qual passou o palácio —que voltou a abrir para visitação, às quartas-feiras. O sr. já esperava um discurso de Raduan crítico ao governo?

Esperava, claro, porque quando Raduan quis inverter [a ordem do discurso], quando percebemos todas aquelas pessoas que lá estavam, era evidente que o discurso estava preparado, mas não imaginava que fosse naquele tom.

Podia crítica, e é normal, mas é normal também a reação que tive que ter. Não disse que não é democrátic­o, disse que é agressivo e deselegant­e e que transformo­u uma homenagem num episódio de palanque para a oposição ao governo. Ele imaginou que fosse falar e não teria resposta, tentando subverter o cerimonial, e que o governo ficaria calado. Há um ditado que eu prezo muito: “Quem fala o que quer ouve o que não quer”. O sr. acha que ele deve devolver o prêmio de 100 mil euros?

Não me coloque numa situação de aconselhar e ditar normas a quem quer que seja. Isso é problema dele e da consciênci­a dele.

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