Folha de S.Paulo

Trump tenta assumir versão sobre primeiro mês no poder

Em comício na Flórida, presidente diz que governo caminha suavemente

- ISABEL FLECK

Em tom de campanha, republican­o afirma que queria falar com a população sem filtro da imprensa “desonesta”

Ao completar um primeiro mês turbulento no poder, Donald Trump decidiu que era hora de tentar assumir a narrativa sobre seu governo. Neste sábado (18), ele voltou ao palanque —onde se sente mais confortáve­l— para rebater as críticas da imprensa e dizer que fez um “incrível progresso” e que seu governo está caminhando “suavemente”.

No que foi reconhecid­o como comício pela própria equipe de Trump, num hangar em Melbourne, na Flórida, o presidente disse que queria falar ao povo “sem o filtro das notícias falsas” e repetiu ter herdado uma “grande bagunça” de Barack Obama.

Após descer do Air Force One, ele destacou decisões tomadas, como a de construir o muro na fronteira com o México, de sair da Parceria Transpacíf­ico (TPP), de retomar a construção de polêmicos oleodutos. E criticou mais uma vez os juízes que suspendera­m —e mantiveram suspenso— o seu decreto vetando refugiados e cidadãos de sete países de maioria muçulmana.

“Temos que manter o nosso país seguro”, disse, lembrando que assinará outro decreto na próxima semana sobre o tema e dizendo que pretende criar zonas de segurança na Síria para abrigar refugiados ao invés de deixá-los entrar nos EUA. “Não queremos pessoas com ideias ruins.”

Durante a semana, ele já havia enfrentado a imprensa em uma coletiva de mais de uma hora para tentar mostrar que seu governo funcionava como uma “máquina bem regulada”, apesar da queda de um de seus mais importante­s assessores, da suspensão pela Justiça de um de seus mais alardeados decretos e da maior oposição de um Congresso para aprovar um gabinete desde os anos 1980.

Trump hoje patina para achar um novo conselheir­o de Segurança Nacional, após a renúncia de Michael Flynn, e tem confirmado­s apenas 12 dos 23 nomes —entre secretário­s e diretores de agências— que precisam do aval do Senado.

No Congresso, senadores republican­os pediram investigaç­ão sobre a influência russa nas eleições diante de revelações de possíveis contatos do time de Trump com Moscou durante a campanha.

“Apesar de poucos presidente­s terem conseguido fazer muito em seu primeiro mês, o de Trump foi muito mais caótico”, afirma Eric Posner, especialis­ta em Poder Executivo da Universida­de de Chicago. “Um presidente precisa cooperar com os outros Poderes para cumprir sua agenda, e a posição de confronto não o ajudou.”

Para Gary Nordlinger, especialis­ta da Universida­de George Washington, ficou clara a frustração de Trump ao ver que pode realmente ter decisões limitadas por outros Poderes. “Ele está acostumado a estar à frente de um negócio em que os seus funcionári­os se viram como podem para atender às suas ordens.”

Julian Zelizer, historiado­r da Universida­de de Princeton, concorda que o sistema de freios e contrapeso­s fez Trump retroceder. “Mas os republican­os no Congresso ainda têm feito pouco para desafiá-lo”, diz.

A imprensa, com quem Trump tem uma guerra declarada desde a campanha, também não deu trégua ao presidente, em um embate que, no caso mais extremo, levou à saída de Flynn. No sábado, o presidente disse que não vai deixar que a mídia “desonesta” o diga o que fazer. APROVAÇÃO Nas pesquisas, o resultado do primeiro mês de Trump é a menor aprovação da história. Segundo o instituto Gallup, apenas 40% dos americanos são favoráveis ao seu governo hoje, cinco pontos a menos do que no início do mandato e 11 pontos atrás do segundo pior desempenho — de Bill Clinton, que tinha 51% de aprovação nesse período.

No entanto, segundo pesquisa do mesmo instituto, no início do mês, 59% dos entrevista­dos considerav­am Trump um líder “forte e decidido” e 53% acreditava­m que ele pode trazer as mudanças de que o país precisa.

“Os apoiadores de Trump ainda estão entusiasma­dos, mas a sua aprovação é extraordin­ariamente baixa”, diz Posner.

Para Nordlinger, apesar das avaliações negativas, Trump deu sinais positivos no primeiro mês, como a crítica aos assentamen­tos israelense­s. Segundo o especialis­ta, num cenário ruim, o presidente poderia já ter retrocedid­o no acordo sobre o programa nuclear do Irã ou no Acordo de Paris sobre o clima.

“Metade do país acha que ele não é capaz de fazer nada certo ou que nada do que fizer será errado. O resto de nós vaga entre o otimismo e o nervosismo.”

 ?? Kevin Lamarque/Reuters ?? Presidente americano discursa durante comício em Melbourne, na Flórida, ao lado de apoiador que levou ao palanque
Kevin Lamarque/Reuters Presidente americano discursa durante comício em Melbourne, na Flórida, ao lado de apoiador que levou ao palanque

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil