Morre mulher do caso que legalizou o aborto nos EUA
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Morreu neste sábado (18), aos 69 e por insuficiência cardíaca, a mulher que, sob pseudônimo, entrou com o processo que culminaria na legalização do aborto nos Estados Unidos, em 1973.
Desempregada, solteira e grávida do terceiro filho aos 22 anos, Norma McCorvey queria interromper a gravidez. Mas à época, em 1969, o procedimento era proibido, com exceção de casos para salvar a vida da gestante.
Orientada por uma advogada, moveu uma ação contra o Estado usando o nome Jane Roe. Enfrentou o promotor de Dallas, Henry Wade, no que ficou conhecido como o caso “Roe x Wade”.
McCorvey acabou dando à luz uma menina, que foi adotada por outra família. A questão, no entanto, ganhou vida própria e avançou até chegar à Suprema Corte, tornando-se uma das decisões mais importantes já tomadas pela maior jurisdição dos EUA, por sete votos a dois.
A sentença do caso “Roe x Wade” foi turbulenta e teve seu alcance reduzido por decisões posteriores da Suprema Corte.
Mas sua contribuição principal sobreviveu, cumprindo um papel de contenção em momentos em que o direito ao aborto ficou sob ataque de legisladores nos Estados de maioria republicana.
Décadas depois do caso, McCorvey —que chegou a fazer campanhas em apoio a clínicas de aborto nos anos 1980— tornou-se evangélica e uma fervorosa opositora do procedimento. Mais tarde, se converteu ao catolicismo.
“Eu sou 100% a favor da vida. Não acredito em aborto, mesmo em uma situação extrema. Você não deve agir como seu próprio Deus”, declarou em 1998. McCorvey passou a dizer que foi usada por sua advogada no processo, e reafirmava que nunca chegou a fazer um aborto.
Ela foi presa duas vezes durante protestos —a saúde frágil nos últimos anos a afastou das manifestações. Também escreveu um livro em que narrou a juventude de abusos e envolvimento com álcool e drogas.