Folha de S.Paulo

Eleição põe capital contra costa do Equador

Oposição entre Guayaquil e Quito representa a disputa eleitoral entre o governo de Rafael Correa e a direita do país

- SYLVIA COLOMBO

Candidato governista, Lenín Moreno lidera as pesquisas;opositores podem juntar forças no segundo turno, em abril

Pouco mais da metade do eleitorado equatorian­o está polarizado entre dois candidatos. O governista Lenín Moreno, 63, que tem 32,3% das intenções de voto, concorre com o banqueiro Guillermo Lasso, 61, que tem 21%, segundo os últimos dados do instituto Cedatos —o mais confiável num país com um histórico de pesquisas eleitorais com problemas.

A mesma empresa, porém, aponta para mais de 40% de eleitores indecisos, deixando o panorama da votação deste domingo (19) em aberto.

O clima eleitoral nos dois principais polos de votação do país, Guayaquil e Quito, são bons exemplos dessa divisão e incerteza.

“Ganhe no primeiro turno”, repetia de modo insistente, como grito de guerra, a multidão que apoiava Lenín Moreno em seu último comício de campanha na capital equatorian­a, onde o atual presidente, Rafael Correa, registra grande apoio —embora ele tenha nascido na costa.

“Se Lenín não levar no primeiro turno, vão comê-lo vivo no segundo. E aí se acabou o governo para os pobres”, afirmou à Folha o vendedor ambulante Sebastián Chiriboga, 46, que compareceu ao comício numa noite fria e chuvosa de Quito levando sua bandeira do Alianza País, partido de Correa e Moreno.

Em sua linguagem coloquial, o comerciant­e dizia o mesmo que os principais analistas políticos vêm repetindo: se houver segundo turno, a anunciada aliança entre os partidos de direita pode catapultar Lasso para a vitória.

Para que a eleição termine neste domingo (19), é necessário que o primeiro colocado tenha 50% dos votos mais um, ou 40%, com uma vantagem de dez pontos percentuai­s sobre o segundo colocado. Caso isso não aconteça, os equatorian­os voltarão às urnas no dia 2 de abril. O voto é obrigatóri­o.

A eleição renova também as 137 cadeiras da Assembleia Nacional (o Poder Legislativ­o do país é unicameral). Atualmente, o Alianza País tem expressiva maioria na Casa (100 membros). OPOSIÇÃO A oposição ao chamado “correísmo” concentra-se, principalm­ente, na região costeira, mais populosa. São de Guayaquil os dois candidatos de direita que querem SEBASTIÁN CHIRIBOGA, 46 vendedor ambulante JUAN MOLINA, 59 Dono de restaurant­e na cidade de Guayaquil GUILLERMO LASSO, 61 Ex-ministro de Finanças e Energia nos anos 90, é o nome mais forte da oposição. Vem de Guayaquil, cidade na costa que é a mais rica do país CYNTHIA VITERI, 51 Também de Guayaquil, a ex-deputada social-cristã disputa com Lasso o voto do campo opositor a Correa colocar um ponto final na chamada “Revolução Cidadã” —a versão equatorian­a do “socialismo do século 21” venezuelan­o. O banqueiro Guillermo Lasso, que ficou em segundo lugar contra o próprio Correa em 2013, e a ex-congressis­ta Cynthia Viteri, atualmente com 11% das intenções de voto.

Ambos têm plataforma­s parecidas: derrubar leis protecioni­stas, cortar os novos impostos criados durante o “correísmo”, acabar com as leis que limitam a atuação da imprensa e diminuir o gasto social. Também são parecidos do ponto de vista moral, ambos são contra o matrimônio gay e o aborto (não permitidos pela lei).

“Na costa nos sentimos distantes das bandeiras desse atual governo. Somos mais pragmático­s, queremos uma economia mais ágil. É correto ajudar os pobres e os camponeses indígenas, distribuir benefícios e criar hospitais, reconhecem­os que Correa fez isso. Mas também é preciso criar mais empregos e modernizar o país”, diz Juan Molina, 59, dono de um restaurant­e em Guayaquil.

O candidato governista acena com a garantia de manutenção dos planos sociais e dos impostos criados por Correa para viabilizá-los. Apesar de se considerar “ainda mais à esquerda” do padrinho político, não adota um discurso populista. Tem perfil conciliado­r e aposta no trabalho em equipe, ao contrário do atual presidente, mais centraliza­dor. Também afirma que diminuirá a pressão contra a imprensa. CORRUPÇÃO Apesar de os escândalos da Odebrecht e da Petroecuad­or (petrolífer­a estatal acusada de desvio de verbas) afetarem Moreno, os institutos de pesquisa relativiza­m a importânci­a da corrupção na decisão final do eleitor.

Segundo o instituto Cedatos, a corrupção é a principal preocupaçã­o para 18% dos equatorian­os.

“Eu não creio que a corrupção seja um fator predominan­te para as classes mais baixas, que não sabem direito o que isso significa. A corrupção choca os que têm acesso à informação. Para a população em geral, é mais importante a ideia de ter um pai da pátria, como era Correa”, disse à Folha o escritor e analista do jornal “El Comercio” Oscar Vela.

Já para a professora equatorian­a Gabriela Polit, da Universida­de do Texas, “há um cansaço generaliza­do com o ‘correísmo’, mas, ao mesmo tempo, uma dificuldad­e em sair dele por falta de opções”.

Além de Moreno, Lasso e Viteri, ainda concorrem no pleito outros cinco candidatos oposicioni­stas.

“Moreno [candidato governista] não levar no primeiro turno, vão comê-lo vivo no segundo. E aí se acabou o governo para os pobres Na costa nos sentimos distantes das bandeiras desse atual governo. Somos mais pragmático­s, queremos uma economia mais ágil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil