Folha de S.Paulo

Agricultur­a se recupera e anima o campo

Depois do tombo provocado pelo clima em 2016, setor deve ter safras recordes e injetar R$ 546 bilhões na economia

- MAURO ZAFALON

Retomada leva otimismo a cidades produtoras, que têm a expectativ­a de puxar outras atividades, como o comércio FOLHA

Até agora, tudo vai bem com a agricultur­a. Esse cenário é bem diverso do de 2016, quando o clima provocou fortes retrações na produção.

Com isso, as previsões são que o setor vá injetar R$ 546 bilhões na economia neste ano, R$ 15 bilhões a mais do que no ano passado.

E, quando a agricultur­a vai bem, a injeção de ânimo e de renda é imediata por todo o país, das pequenas às grandes cidades.

Sorriso, cidade de Mato Grosso considerad­a a maior produtora de soja do mundo, pode voltar a honrar seu nome, após um 2016 difícil.

Já a pequena Urupema (SC), com apenas 2.400 habitantes, espera pela colheita da maçã, sua fonte de renda.

Por três meses, a cidade vive a agitação dessa safra, que promete ser boa. É renda para comércio e população.

Mais ao sul, a Serra Gaúcha espera retomar o ritmo perdido na safra passada, elevando em pelo menos 120% a produção de uva.

José Gasques, do Ministério da Agricultur­a, destaca o efeito multiplica­dor dessa produção espalhada pelo país. Os R$ 546 bilhões apurados pelo ministério refletem as vendas geradas dentro da porteira, o chamado VBP (Valor Bruto da Produção).

“Após sair das fazendas, o produto vai movimentar ainda os setores de frete, industrial­ização, exportação e financeiro. E cada município vai ser afetado conforme suas caracterís­ticas”, diz ele.

É o que os dois carros-chefes do agronegóci­o brasileiro —a soja e o milho— estão fazendo. Com perspectiv­as de produção recorde, esses produtos já deixam suas marcas.

O setor de máquinas agrícolas vendeu 75% mais neste janeiro do que em igual período do ano passado. Já a indústria de adubos espera repetir o recorde de vendas de 2016.

Isso porque os produtores se preparam para colher safras recordes. A de soja poderá superar em 10 milhões de toneladas a de 2016, e a de mi- Amendoim Pimenta do reino lho, em 21 milhões.

A boa evolução fará a produção nacional de grãos atingir o recorde de 220 milhões de toneladas neste ano.

“Agricultur­a e comércio estão mais animados”, diz Luimar Luiz Gemi, produtor de Sorriso, cidade que teve um baque na produção em 2016.

Os agricultor­es da cidade pagam as contas e retomam os investimen­tos, afirma Gemi, que também preside do Sindicato Rural de Sorriso.

Uma das boas mudanças dessa volta ao normal do setor é que o produtor está colocando em dia seus compromiss­os, e as instituiçõ­es começam a oferecer mais crédito, o que permite a compra de máquinas e adubo.

Sorriso planta 600 mil hectares de soja, 400 mil de milho e 40 mil de outros produtos, como algodão e feijão.

Sem soja e milho, mas com uma possível safra recorde de uva, a Serra Gaúcha refaz as contas. A oferta de matériapri­ma volta, e a produção de suco e de vinho retoma seu patamar normal.

A escassez de uva provocou uma alta no produto brasileiro. Com isso, os argentino e os chilenos avançaram no mercado interno.

Agora, a maior oferta de uva dará mais competitiv­idade ao produto nacional, refletindo, ainda, na renda do produtor, afirma Mauro Zanus, da Embrapa Uva e Vinho.

“Afinal, o produtor só vai bem se houver vendas lá na ponta [no varejo]”, diz ele. E não foi o que ocorreu em 2016, quando as vendas recuaram 18% no varejo.

Já na região serrana de Santa Catarina, o ditado é que, “sem maçã, as cidades viram fantasmas”. Menos emprego, menos vendas no comércio e um produtor sem renda.

Mas não é o que deverá ocorrer neste ano. Franciele Medeiros Andrade, secretária de Planejamen­to e Desenvolvi­mento de Urupema, diz que até o fim de abril a cidade vai viver o clima de uma safra boa. “E, se a maçã vai bem, tudo vai bem por aqui.”

Outro produto que tem grande capilarida­de na formação da renda no país, a cana-de-açúcar deverá melhorar o cenário econômico em ao menos mil municípios.

A cana “mexe com toda a atividade dos municípios onde está: de borrachari­as a supermerca­dos”, diz Antonio Padua Rodrigues, diretor da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). O preço internacio­nal do açúcar mais favorável deverá trazer mais renda para o setor. CARNES O setor de carnes não terá os custos pesados de produção como os de 2016, mas a situação econômica pode interferir na demanda.

Mais desemprego e menos renda vão afetar as vendas, segundo José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, A oferta de carne bovina aumenta, mas com preços menores. A situação na suinocultu­ra é melhor. O setor deverá repetir o bom momento de 2016, quando as exportaçõe­s cresceram mais de 40%.

O cenário para a avicultura também é bom. É uma atividade de ciclo curto e rapidament­e o setor pode se adaptar às novas condições de mercado.

Suinocultu­ra e avicultura deverão trazer mais renda para produtores e injetar mais recursos nas principais regiões produtoras, principalm­ente o Sul e o Centro-Oeste.

 ?? Carlos Ferrari/Folhapres ?? Colheita de uva em Bento Gonçalves (RS); expectativ­a é que produção na Serra Gaúcha cresça ao menos 120% neste ano, depois da escassez de 2016
Carlos Ferrari/Folhapres Colheita de uva em Bento Gonçalves (RS); expectativ­a é que produção na Serra Gaúcha cresça ao menos 120% neste ano, depois da escassez de 2016

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