Folha de S.Paulo

A venda de 70% da empresa de saneamento Odebrecht

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A venda de ativos da Odebrecht, iniciada pelo grupo baiano em 2015 como parte de seu processo de reestrutur­ação, está andando mais devagar do que seus executivos imaginavam e deve atrasar pelo menos seis meses.

Até o momento, dos R$ 5 bilhões em vendas acordadas, só R$ 1,7 bilhão entrou de fato no caixa do grupo —a esta altura, a Odebrecht esperava já ter conseguido passar à frente ao menos R$ 7 bilhões.

O plano antes anunciado pela companhia era levantar R$ 12 bilhões com a venda de parte de seus projetos até a metade deste ano. Agora, contudo, executivos do alto escalão da companhia admitem que só devem alcançar o objetivo no fim de 2017. Já falam também em conseguir de R$ 11 bilhões a R$ 12 bilhões.

O grupo baiano precisa do dinheiro para quitar dívidas com credores num momento em que enfrenta uma crise de reputação em decorrênci­a da Lava Jato e queda de receitas.

O atraso nas vendas devese, em parte, à divulgação dos termos do acordo fechado pela construtor­a com autoridade­s de EUA, Brasil e Suíça.

Os americanos tornaram públicas ilegalidad­es confessada­s pela companhia, o que fez pipocar denúncias em outros países nos quais a Odebrecht tem operação. Com isso, ficou mais difícil concluir acordos e levantar crédito.

No Peru, onde a Odebrecht ainda negocia com o governo, a concessão de um gasoduto teve de ser devolvida após o consórcio do qual o grupo baiano faz parte não conseguir levantar o financiame­nto de longo prazo com bancos. O grupo negociava sua fatia no projeto e chegou a ter conversas com a Brookfield, que arrematou outros projetos do conglomera­do.

Mas, com a devolução da concessão, terá de esperar pelo resultado de um leilão que será promovido pelo governo peruano —a Odebrecht e seus sócios serão remunerado­s com o dinheiro pago pelo novo concession­ário. ESPERA Ambiental, acertada em outubro, renderá R$ 2,8 bilhões, mas a operação só deve ser concluída em março, segundo executivos a par das negociaçõe­s ouvidos pela Folha.

Por enquanto, a companhia ainda opera dentro da própria Odebrecht.

As novas metas estabeleci­das pelo grupo baiano também decorrem da dificuldad­e em encontrar interessad­os e chegar a um acordo de preço para alguns dos ativos.

A hidrelétri­ca de Chaglla, no Peru, precisou receber investimen­tos do grupo para ser oferecida no mercado e está desde 2015 à venda.

A Mectron, fabricante de mísseis, mostrou-se mais complicada de vender do que o inicialmen­te previsto. Sem candidato a levar uma fatia da empresa, o plano passou a ser desmembrá-la, negociando seus projetos separadame­nte.

Apesar dos percalços, há conversas em andamento para negócios de peso, como a fatia da Odebrecht na Santo Antônio Energia, responsáve­l pela hidrelétri­ca de mesmo nome no Brasil.

Na lista de ativos em negociação, estão ainda um bloco de petróleo e uma mina de diamantes em Angola (veja quadro abaixo). PARA BANCOS O movimento de transferên­cia de recursos aos bancos deve se repetir ao longo dos próximos meses caso a empresa tenha sucesso em seu plano de venda de ativos.

Os R$ 12 bilhões que o grupo pretende levantar com a venda de parte do conglomera­do até o fim do ano serão usados para quitar dívidas —não há espaço para usá-lo em investimen­tos, dizem executivos a par dos números.

A dívida total do grupo hoje é de cerca de R$ 76 bilhões. É o menor valor desde 2010, mas preocupa ainda a companhia, que enfrenta uma grave crise de reputação e viu suas receitas caírem.

Ao repassar projetos, o grupo não só levanta dinheiro para pagar a credores mas livra-se de ter de investir nesses ativos e transfere aos novos donos obrigações com assumidas com bancos.

Ao menos R$ 6 bilhões em dívidas serão limadas caso a empresa se desfaça do que está atualmente em negociação com potenciais compradore­s.

Enquanto isso não acontece, o grupo trabalha para renegociar prazos e condições de pagamentos para outros R$ 19 bilhões em financiame­ntos, especialme­nte da Odebrecht Óleo e Gás e da Odebrecht Transport, responsáve­l por administra­r concessões. (RA E RL)

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