Folha de S.Paulo

FOLHA TRANSPARÊN­CIA Varrição de rua em SP recua sob Doria

Quantidade de toneladas varridas na cidade no 1º mês de mandato do prefeito foi menor do que no ano passado

- ARTUR RODRIGUES LEANDRO MACHADO

Situação ocorre em um cenário de piora na limpeza da cidade, uma das prioridade­s da nova gestão municipal

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), fez da roupa de gari a principal marca do início de seu governo, com foco na limpeza da cidade. A gestão do tucano, porém, tem recolhido menos lixo das ruas do que a gestão anterior, do petista Fernando Haddad.

Os dados inéditos são da própria prefeitura e foram obtidos pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação. Eles mostram que a quantidade de toneladas varridas no primeiro mês de mandato de Doria recuou em relação ao ano passado, quando Haddad ainda era prefeito.

O lixo recolhido pelas empresas contratada­s pela prefeitura em janeiro teve queda em todas as comparaçõe­s feitas pela Folha: com o mesmo período do ano passado, em relação a dezembro e à média dos últimos 12 meses.

Em janeiro, foram varridas das ruas e recolhidas das lixeiras 7.732 toneladas de lixo, queda de 3,4% (ou cerca de 270 toneladas) em relação ao mesmo período do ano passado. Em janeiro de 2016, foram 8.000 toneladas.

Os dados foram compilados pelo Siscor (Sistema de Controle de Resíduos Sólidos Urbanos), órgão da prefeitura.

O recuo acontece em um cenário de piora constante na limpeza da cidade, uma das áreas em que Fernando Haddad era mais criticado.

Em 2012, a prefeitura varreu 133 mil toneladas de lixo. Em 2015, foram 107 mil. Já no ano passado, a quantidade de lixo varrido despencou para 95,8 mil toneladas.

Crítico da herança deixada por Haddad, Doria apostou em ações midiáticas e pontuais em que encarnou papel de jardineiro e pintor, entre outras categorias profission­ais.

Logo no segundo dia de mandato, o tucano madrugou vestido de gari, varreu o chão por menos de dez segundos e lançou um novo programa de zeladoria, o Cidade Linda.

O projeto prevê que as empresas de limpeza façam mutirões de zeladoria cada semana em uma região da cidade, sem cobrança adicional nem prejuízo dos outros serviços. O programa, diz a prefeitura, pode ter influencia­do a população a reduzir o descarte de lixo (leia texto nesta página).

Segundo o Datafolha, o Cidade Linda é considerad­o ótimo ou bom por 59% dos paulistano­s. Para 20% deles, é regular, e apenas 11% o avaliam como ruim ou péssimo.

Mesmo com a aprovação ao programa, a maioria (51%) considera que as medidas ainda não surtiram efeito e que a cidade segue igual. CORTE NOS CONTRATOS Assim que assumiu, Doria anunciou que, além de aumentarem os serviços de zeladoria, as empresas também deveriam sofrer corte de 15% nos contratos dos serviços. Na ocasião, integrante­s do setor disseram à Folha que a cidade poderia “colapsar”.

Para o presidente do sindicato que representa os garis (Siemaco), José Moacyr Pereira, as ações de Doria na área têm efeito mais moral do que prático. “A limpeza urbana vem sofrendo cortes no orçamento não é de hoje.”

Ele afirma que não adianta “fazer marketing” de que vai melhorar a limpeza com corte de 15% no orçamento. Como 85% do gasto com varrição é mão de obra, diz, qualquer corte acaba fazendo com que haja menos garis limpando as ruas da cidade.

A deficiênci­a da varrição foi sentida pela comerciant­e Shirlei Sato, 65, que mora na rua Ribeiro da Silva, um ponto clássico de descarte de lixo no centro de São Paulo.

“Em janeiro os garis começaram a passar a cada dois dias. Antes, era todo dia”, diz. Na sexta-feira (17), em frente ao seu comércio, havia uma pilha de lixo: garrafas de suco, sacos plásticos e um pneu.

Na Cachoeirin­ha (zona norte), a dona de casa Lucilene da Silva, 22, enfrenta o mesmo problema. A rua São Leandro, onde mora, fica atulhada de restos: galões de água vazios, bolos de papel e até uma televisão. “Quem dera limpassem toda semana. Demora é muito para alguém aparecer, mesmo a gente ligando para a prefeitura”, diz. Os ratos que circulam pelo lixo acabam entrando na casa dela.

A Folha encontrou o mesmo cenário na rua Diogo Mendonça, no Ipiranga (zona sul). Para andar pela calçada, era preciso enfrentar o lixão. Jan 2016 Mar Média de 2016: 7.983 toneladas/mês Equivale, em média, a 814 caminhões de lixo Comparaçõe­s de janeiro de 2017 Com relação à média de 2016 -3,1% Com relação a jan.2016 -3,4% POR PREFEITURA REGIONAL Toneladas varridas em janeiro de 2017 10 Com relação a dez.2016

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Rua Diogo Mendonça, no Ipiranga (zona sul de SP), cheia de lixo na calçada; varrição recuou em relação ao ano passado

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