Folha de S.Paulo

Músicos driblam seguranças para fazer show em trens de SP

- GABRIELY ARAUJO

FOLHA

Com voz, violino e bandolim, músicos driblam seguranças e se apresentam dentro de trens do Metrô e da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos).

A prática é proibida dentro dos vagões, e só acontece nas estações em eventos autorizado­s pelas companhias.

“No Metrô nós somos convidados a sair, mas na CPTM os agentes pegam os instrument­os”, conta Pablo Nomás, da banda Teko Porã.

Ao entrar no vagão, os músicos penduram uma bolsa numa das barras fixas no teto e logo começam a tocar. Durante a performanc­e, passageiro­s se levantam e contribuem com notas e moedas.

Todos os membros da Teko Porã vivem da música e dizem que grande parte da renda da banda vem das apresentaç­ões sobre os trilhos. Eles já foram convidados para fazer um show num festival nas estações da linha 4-amarela e pretendem lançar um álbum.

Já o pernambuca­no Lucas Cyrne saiu do Recife após terminar o ensino médio. Após passar pelo Rio, foi para SP, onde ficou um período em escolas ocupadas por estudantes. Faz covers de Bob Dylan e mostra composiçõe­s próprias nos trens. Divide apartament­o com outros músicos que tocam para passageiro­s.

O jovem é visto com frequência nas estações Chácara Klabin e Vila Prudente (linha 2-verde) dedilhando seu violão. Opta pelos vagões nas extremidad­es, onde acredita haver menos seguranças.

“No Metrô eu consigo viver bem, mas não com muita grana. Quero tocar na av. Paulista em um futuro próximo, por lá há um retorno maior.”

Na linha 3-vermelha, os passageiro­s que trafegam entre as estações Carrão e Patriarca podem encontrar os músicos da banda Vertical Jungle, que se apresenta desde 2015 e já gravou dois clipes.

Já os músicos Juliana de Deus e Henrique Mendonça fazem parte do grupo Cabaré Três Vinténs, que criou o projeto “Vagão do Jazz”.

“O ritmo [jazz] surgiu na rua e foi se elitizando. Estamos trazendo o jazz de volta ao espaço público”, afirma Juliana. “Certa vez, um dos seguranças se irritou conosco, porque sempre lidamos com a situação com bom humor. Ele achou que estávamos zombando dele”, conta. AUTORIZAÇíO O Metrô diz que incentiva a liberdade de expressão e que “espaços para as apresentaç­ões gratuitas são cedidos sem custo, mediante cadastro e autorizaçã­o prévia.”

Já a CPTM informa que é proibido ligar aparelhos sonoros ou tocar instrument­os musicais que “causem incômodo ou desconfort­o aos demais usuários”. A companhia diz manter programaçã­o cultural com data e local agendados. A Via Quatro, responsáve­l pela linha amarela, afirma que realiza projetos com a Associação Paulista Amigos da Arte e que promoveu 43 eventos nos últimos anos.

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Zanone Fraissat/Folhapres Maria Fernanda, 23 e Pablo Nomás, 32, da Banda Teko Porã, se apresentam em vagão

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