Folha de S.Paulo

Lições do passado

- PAULO VINÍCIUS COELHO

MIGUEL MARTINEZ foi deposto da presidênci­a do Corinthian­s em 1972, seis meses antes do fim de seu mandato, por não explicar uma dívida de US$ 1 milhão. O débito corintiano atual está na faixa de R$ 400 milhões, sem incluir o estádio.

Nesta segunda-feira (20), o Corinthian­s votará o afastament­o do atual presidente, Roberto de Andrade. As conversas com quem decidirá o impeachmen­t indicam que a proposta não colou. O mais provável é que o impediment­o não seja aprovado e Andrade permaneça no cargo. É justo. A proposta é afastálo por incompetên­cia. Não há indício para acusar o presidente de desonestid­ade.

O afastament­o de Miguel Martinez, há 45 anos, levou ao poder Vicente Matheus. Demorou mais cinco anos para acabar com o jejum de títulos mais longo da história dos grandes clubes brasileiro­s.

Mudar o presidente não traz soluções a curto prazo como se fosse uma varinha de condão. É preciso trabalho para corrigir erros do passado. O impeachmen­t nem é justo nem é a solução.

No futuro imediato, o Corinthian­s tem o clássico com o Palmeiras, quarta-feira (22), em Itaquera. Incrível como a situação dos dois rivais inverteu-se em tempo tão curto. Nesta semana, o presidente Maurício Galiotte e o diretor Alexandre Mattos viajaram a Barcelona para negociar a permanênci­a do zagueiro Mina até o final da Libertador­es. Isso deve se confirmar.

Também tratam de parcerias com o clube catalão em outros setores. O Barça é um exemplo nas divisões de base. O Palmeiras, não.

A gestão Paulo Nobre melhorou muito a estrutura da base. O Palmeiras revelou Gabriel Jesus, Vitinho só não foi para a seleção sub20, porque o Palmeiras pediu sua liberação, João Pedro disputou o último Mundial Sub-20, Victor Luís joga a Libertador­es pelo Botafogo e recebe elogios.

Mas as divisões de base vão colocar poucos jogadores no time principal, por causa das boas contrataçõ­es feitas pelo clube, com apoio da Crefisa.

O momento lembra a era Parmalat. Naquele tempo, o Palmeiras encostou-se na facilidade para contratar e não fez nada para o momento em que perdesse o patrocínio.

Não se trata de dispensar a Crefisa. Não se rasga dinheiro. Mas é possível usá-lo para fazer a transição necessária entre ser clube comprador e formador de seus próprios ídolos.

O Palmeiras sempre foi forte quando comprou. Jair Rosa Pinto, Ademir da Guia, Leivinha, Jorge Mendonça, Luís Pereira, Edmundo, Evair, Zinho, Rivaldo, Borja...

Na base, ou na várzea, descobriu Waldemar Fiúme, Alfredo Mostarda, Pedrinho, Edu Manga, Vágner Love, Gabriel Jesus, Marcos... O risco é comprar como se o dinheiro fosse eterno.

A Crefisa promete investimen­to no esporte amador e no clube social, contrapart­ida à eleição de Leila Pereira e de José Roberto Lamacchia, agora conselheir­os. Por que não incluir dinheiro para montar a estrutura na formação de jogadores?

Assim como o Corinthian­s precisa olhar para o passado e entender que a deposição do presidente não trará dias melhores imediatame­nte, o Palmeiras deve relembrar a experiênci­a do fim da parceria da Parmalat.

Se preparar o futuro, não haverá uma seca tão grande como houve entre 2000 e 2015.

Corinthian­s e Palmeiras precisam olhar para o passado e refletir sobre o impeachmen­t e a base

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil