Folha de S.Paulo

Mágico, ‘A Tartaruga Vermelha’ tem grande artista por trás

- SÉRGIO ALPENDRE

FOLHA

Poucas coisas são mais desafiador­as para um crítico do que a simplicida­de. Quando nos deparamos com um filme que se resume ao essencial, a essa marca de síntese e clareza que só os grandes artistas conseguem alcançar, temos dificuldad­e de explicar a beleza que nosso olhar testemunho­u.

É precisamen­te o que acontece após a projeção de “A Tartaruga Vermelha”, primeiro longa-metragem do diretor de animações holandês Michaël Dudok de Wit.

Sem qualquer diálogo e com trilha sonora (único elemento tonificado do filme) no limite entre o emotivo e o exagerado, o longa nos mostra muitos anos na vida de um náufrago preso numa ilha deserta com pequenos caranguejo­s, tartarugas gigantes e aves, e sujeito a diversos fenômenos meteorológ­icos.

Ele tenta sair da ilha com jangadas fabricadas com troncos de árvores. Mas é sempre sabotado por golpes de uma grande tartaruga vermelha.

A partir daí o que acontece é digno das grandes fábulas da história da ficção, e convém não adiantar. Basta apenas dizer que é mágico, poético, onírico e muito, muito belo.

A carreira de Michaël Dudok de Wit é curiosa. Gênio de traços simples e incrível sensibilid­ade, realizou apenas quatro curtas desde o início profission­al como um dos animadores de “Heavy Metal – Universo em Fantasia” (1981).

O melhor desses curtas é uma pequena obra-prima da delicadeza: “Pai e Filha” (2000), espécie de ensaio para o que ele vai desenvolve­r no primeiro longa.

Em “A Tartaruga Vermelha”, destaca-se também o roteiro escrito por De Wit e Pascale Ferran, diretora que se revelou internacio­nalmente com “Lady Chatterley”, e que em seu último longa, “Bird People”, explorou brilhantem­ente um drama com toque de fábula.

A produção coube a um combo internacio­nal de grande penetração comercial, incluindo o Studio Ghibli, fundado, entre outros, pelos magos da animação japonesa Isao Takahata (“O Conto da Princesa Kaguya”) e Hayao Miyazaki (“A Viagem de Chihiro”). Com De Wit, formam uma parceria celestial. (LA TORTUE ROUGE) DIREÇÃO Michaël Dudok de Wit PRODUÇÃO França/Bélgica/Japão, 2016, livre QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO ótimo VEJA TAMBÉM GLOBONEWS ESPECIAL O programa traça um perfil dos quase 10,5 mil refugiados que vivem no Brasil. Entre as histórias contadas estão a da cabeleirei­ra angolana que ganha a vida no Rio e da pequena Alma, vinda da Palestina para São Paulo. GloboNews, 20h30, Livre

 ??  ?? Cena da animação ‘A Tartaruga Vermelha’, que segue a vida de um náufrago em uma ilha
Cena da animação ‘A Tartaruga Vermelha’, que segue a vida de um náufrago em uma ilha
 ??  ?? Agentes Marianne (Marion Cottillard) e Max Vatan (Brad Pitt)
Agentes Marianne (Marion Cottillard) e Max Vatan (Brad Pitt)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil