Folha de S.Paulo

Ruídos dispersivo­s dentro e fora da tela lesam o bom ‘Aliados’

- RICARDO CALIL

FOLHA

É preciso ter alguma ousadia para fazer um épico romântico passado na cidade marroquina de Casablanca durante a Segunda Guerra Mundial. As comparaçõe­s com “Casablanca” (1942), o clássico de Michael Curtiz, serão inevitávei­s —e, com grande probabilid­ade, desfavoráv­eis.

Mas, desde a primeira cena de “Aliados”, o diretor Robert Zemeckis (“De Volta para o Futuro”, “Forrest Gump”) deixa claro que seu projeto é justamente ir de encontro a esse desafio. “Aliados” não é uma revisão contemporâ­nea do cinema clássico. É um filme clássico feito com ferramenta­s contemporâ­neas.

Em Casablanca, o espião canadense Max Vatan (Brad Pitt) e a francesa Marianne Beausejour (Marion Cottillard) se conhecem para a missão de matar um embaixador nazista. Eles precisam se passar por um casal e, naturalmen­te, se apaixonam.

Na segunda metade, os dois estão morando em Londres, com uma filha pequena. Tudo vai bem até que Vattan descobre que Beausejour pode não ser quem ele pensa.

A trama de “Aliados” —com seu jogo de verdades e mentiras— tinha potencial para um filme moderno, no qual a encenação seria colocada em questão pela linguagem.

Mas Zemeckis optou por uma narrativa clássica, em que esse jogo serve apenas para alimentar o romance e depois o suspense. Dentro dessa opção, “Aliados” não é “Casablanca”, mas é uma obra bemsucedid­a, que nos faz acompanhar com emoção e surpresa o destino dos personagen­s.

A má recepção ao filme — visto com frieza por público e crítica— talvez tenha a ver menos com seu classicism­o do que com certos ruídos dispersivo­s, dentro e fora da tela.

O primeiro, sintoma da era da celebridad­e, seria o boato de que houve um caso entre Pitt e Cotillard no set, algo que ganhou mais cobertura da imprensa do que o filme em si.

O segundo, já dentro da narrativa, é o evidente desnível entre o trabalho dos dois protagonis­tas: Cotillard é uma intérprete dramática bastante superior a Pitt.

Por fim, há uma ênfase exagerada na composição dos figurinos —o que nos deixa a sensação de estarmos vendo um desfile de moda. (ALLIED) DIREÇÃO Robert Zemeckis ELENCO Brad Pitt, Marion Cotillard PRODUÇÃO EUA, 2016, 14 anos QUANDO em cartaz AVALIAÇÃO bom HISTORY, 20H, 10 ANOS VEJA TAMBÉM JOY - O NOME DO SUCESSO Foi com a criativa Joy Mangano que Jennifer Lawrence foi indicada ao Oscar pela quarta vez. No longa, a personagem se divide entre inventora e mãe divorciada e com uma família disfuncion­al. Telecine Premium, 17h10, 10 anos

 ?? Scott Gries/History/Divulgação ?? Rick Harrison, que está no comando de ‘Trato Feito’
Scott Gries/History/Divulgação Rick Harrison, que está no comando de ‘Trato Feito’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil