Caminhão precisa cruzar fronteiras
AS EXPORTAÇÕES de veículos têm crescido em volume, mas falta vir a recuperação em valores. A grana gorda vem do nicho da indústria que mais sentiu a crise dos últimos anos, o de veículos pesados.
A operação é mais complexa do que parece. Caminhões cruzam fronteiras para trabalhar, não podem ficar parados por falta de peças ou de mão de obra para o reparo. Além da venda do produto em si, é preciso exportar conhecimento sobre os veículos, o que implica mais investimento para treinar mecânicos e abastecer o mercado de reposição.
Mas os tais “países em desenvolvimento” de antigos livros didáticos aceitam bem os brutos que saem das fábricas brasileiras. A vantagem competitiva da mercadoria nacional está em sua capacidade de adaptação: um veículo que suporta as variações de nossa malha viária não teme pau nem pedra.
A história é antiga. Os primeiros veículos exportados pelo Brasil foram os ônibus Mercedes O-321, entre 1961 e 1962. Segundo a Anfavea (associação nacional das montadoras), o primeiro lote de 550 veículos —feitos em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo)— foi destinado à Argentina e à Venezuela.
Em 2016, a Mercedes-Benz exportou 12,9 mil ônibus e caminhões para vários países, um crescimento de 22,3% sobre 2015. O Oriente Médio está entre os destinos que receberam veículos feitos no Brasil. Esse volume foi fundamental para a saúde da empresa.
No mercado interno, a Mercedes teve 20 mil veículos pesados licenciados no ano passado, queda de 26,5% em relação a 2015.
Outras marcas também viram as vendas de caminhões minguarem em 2016 e seguraram as pontas exportando parte de sua produção.
Espera-se que os bons ventos que impulsionam o agronegócio neste ano ajudem as montadoras: há mais safra do que caminhões prontos para o seu transporte.
Contudo, não haverá recuperação expressiva sem que as exportações de veículos pesados engrenem. São os brutamontes que farão a balança comercial do setor automotivo ser favorável ao país.
Não haverá recuperação expressiva do mercado sem que as exportações de veículos pesados engrenem
MARCIO RACHKORSKY escreve na próxima semana