Grupos criam plano de negócio para pagar as contas dos desfiles
DE SÃO PAULO
Para conseguirem ficar de pé, blocos do Rio e de São Paulo têm buscado se profissionalizar, adotando práticas do mundo dos negócios.
“Todo bloco começa informal, mas, com o amadurecimento, o segredo é criar um bom plano de negócios”, diz Marta Chaves, coordenadora de Ciências Contábeis da Universidade Estácio de Sá.
Foi esse o caminho trilhado pelo bloco carioca Sargento Pimenta, que toca músicas dos Beatles em versão carnavalesca. Os primeiros dois anos de desfile, em 2010 e 2011, foram feitos de forma amadora. Nas duas ocasiões, houve problemas com o som, conta a empresária do grupo, Michelly Mury.
“Isso fez cair a ficha de que os sócios tinham um negócio e precisavam cuidar dele de forma profissional”, afirma.
A solução foi contratar uma produtora. “Ficamos oito meses só fazendo o projeto”, conta. Entre as soluções adotadas estavam a melhoria do equipamento acústico e a criação de uma versão menor da banda para fazer shows no resto do ano.
Para a consultora do Sebrae-SP Camila Patricio, é importante ampliar a atuação do bloco. “O segredo para transformar folia em negócio é perceber as oportunidades e fazer eventos que ocupem mais dias além da saída do bloco”, afirma.
Apesar da profissionalização, viver do dinheiro gerado pelos grupos ainda é difícil, afirma Mury. Thiago Borba, 33, um dos sócios do Tarado Ni Você, concorda. “Ainda não chegamos a esse ponto, o objetivo hoje é manter o bloco sustentável”, diz ele.
Depois de ter a ideia do bloco, Borba e seus dois sócios passaram dois anos montando um plano de negócio antes de desfilar pela primeira vez, em 2014. (BRUNO BENEVIDES)
DE SÃO PAULO
Cidades do interior de São Paulo aproveitam o Carnaval para atrair foliões de fora e impulsionar o turismo local.
Em Brotas, município com cerca de 23 mil habitantes a 246 km da capital, são esperados 10 mil visitantes nos blocos de rua e nos shows.
Um dos atrativos do lugar é a cervejaria artesanal Brotas Beer, criada em 2012. O diretor de marketing, Renato Scatolin, 43, espera que o faturamento da empresa triplique em fevereiro.
A agência Território Selvagem, especializada em turismo de aventura, também está ansiosa pela chegada da festa. De acordo com a organização, a procura pelos serviços aumenta em torno de 60% no feriado. “É um público que quer fugir da praia e aproveitar a natureza”, diz Alline Cassetari, diretora comercial do negócio.
O município de Caconde (288 km da capital), com cerca de 19 mil habitantes, deve receber 10 mil foliões, segundo a prefeitura. O empresário Rinaldo Souza, dono do restaurante Pizza na Roça, conta que no fim de semana da folia fatura o equivalente a um mês de trabalho. “Fica tudo lotado. Já temos até reservas”, conta ele.
Em Votuporanga (521 km de São Paulo) é o Bloco Oba, mega evento realizado há 11 anos na cidade, que agita a economia da região.
Segundo Edilberto Fiorentino, um dos criadores, são esperados 15 mil foliões durante os quatro dias de festa, que incluem shows de Jorge e Mateus e Wesley Safadão.
O ingresso para todos os dias de festa custa de R$ 600 a R$ 1.600. De acordo com Fiorentino, são investidos R$ 4 milhões no evento.
O bloco também agita negócios em seu entorno. O empresário Silvio Luiz Pereira, 32, decidiu alugar 40 contêineres, instalados em uma chácara, para hospedar os festeiros que vem de fora.
O pacote de hospedagem começa em R$ 750, com direito a entrada em festas, alimentação, bebidas e transporte. Em relação ao ano passado, o faturamento do empresário já aumentou cerca de 20%. “Neste ano, as vagas já esgotaram em janeiro, antes que em 2016.”