Chanceler viajava sob efeito de injeções com analgésicos
Antes de embarcar para seu último compromisso internacional, um encontro para discutir políticas públicas na Alemanha, José Serra (PSDB) tomou uma injeção com analgésicos para aliviar as dores na coluna.
O incômodo, que se acentuava em viagens aéreas, havia se tornado uma rotina desde que o agora ex-chanceler diagnosticou um desgaste acentuado entre duas vértebras, no ano passado.
Em conversas reservadas, Serra vinha dizendo que o quadro beirava o insuportável. Há cerca de 20 dias confidenciou que, diante do quadro, já pensava em deixar o Ministério das Relações Exteriores. Temia, porém, que a decisão irritasse o presidente Michel Temer e desse margem a especulações sobre uma motivação política.
Temer presenciou por diversas vezes a aflição do então ministro. Durante um viagem para a Índia, em novembro de 2016,disse ao próprio Serra que o via abatido e que achava que ele vinha se alimentando mal. O peemedebista pediu para que o ministro tentasse descansar.
No mês seguinte, Serra se submeteu a uma cirurgia na coluna, para substituir o disco desgastado por uma placa de titânio.
Após a alta, retomou o trabalho se submetendo a sessões de fisioterapia, mas continuou se queixando, dizendo que sentia dores ainda mais fortes do que antes.
Este mês, fez nova série de exames. Apesar de a cirurgia ter sido bem sucedida do ponto de vista ortopédico, o laudo restringia viagens longas.
Mesmo com o documento em mãos, decidiu manter a viagem à Alemanha. Embarcou na semana passada. Ao voltar, se rendeu à impossibilidade de permanecer no posto.
Além de se queixar das dores nas costas, Serra também se dizia “entediado” no cargo e se considerava subaproveitado, segundo amigos. A avaliação era de que o sacrifício físico não compensava.
Durante a montagem do governo Temer, o tucano chegou a ser cotado para o Ministério da Fazenda. Seu nome era defendido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O cargo, porém, que acabou nas mãos de Henrique Meirelles.