Pedi ajuda em uma base da Polícia Militar, e lá me orientaram a ligar 190
Policiais militares e usuários de drogas entraram em conflito na tarde desta quinta-feira (23) na cracolândia, no centro de São Paulo.
Cerca de 300 pessoas se aglomeraram e começaram a atear fogo em lixos e a arremessar pedras e outros objetos contra os policiais, que responderam com bombas e balas de borracha.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, policiais do patrulhamento de área realizaram uma abordagem na rua Helvétia com a alameda Dino Bueno quando um grupo de pessoas respondeu com depredação e fogo nas ruas. A ação policial acontecia fora do fluxo de tráfico de drogas, de acordo com a pasta.
Policiais agiram para tentar cercar os usuários de drogas. Atiraram balas de borracha e bombas de efeito moral para contê-los e montaram um cerco entre a rua Helvétia e a alameda Barão de Piracicaba. Foi solicitado apoio da Força Tática da PM e da GCM (Guarda Civil Metropolitana).
Barricadasforammontadas pelos usuários para impedir o avanço da polícia. Eles também incendiaram objetos.
Repórter-fotográfico que fazia um trabalho freelance para a agência Código 19, Dário Oliveira foi ferido no local e levado para a Santa Casa. Segundo boletim médico da instituição, ele tinha ferimento por projétil de arma de fogo (com munição letal) e quadro estável, fazia exames e não tinha previsão de alta.
Além dele, Marcelo Chello, repórter-fotográfico freelancer da Framephoto, levou um tiro na perna perto da coxa. A bala atravessou a calça. O celular no bolso ficou destruído e impediu que ele se ferisse.
Em nota, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) condenou, “com veemência”, as agressões sofridas pelos jornalistas.
Seis policiais, entre integrantes do Corpo de Bombeiros e do policiamento local, também ficaram feridos, disse a Secretaria da Segurança.
Segundoumamoradorado local, o conflito começou começado após uma briga entre dois usuários de drogas, que acabaram agredindo um bombeiro. “A polícia fechou tudo e começou a jogar bombas no meio das pessoas que não tinham nada a ver com isso”, disse. “O fluxo todo se levantou e foi pra cima.”
A Secretaria de Direitos Humanos da gestão Doria afirmou que está apurando denúncias de violações de direitos durante a ação policial.
A pasta diz que funcionários estiveram no local e constataram que PMs dispararam bombas dentro da tenda do programa Braços Abertos.
A secretária de Desenvolvimento Social, Soninha Francine, criticou, em rede social, a ação da PM. “Inadmissível a polícia tacar bombas dentro da Tenda Helvétia. Seja qual for o fato que motivou a entrada da PM, a ação em si foi absurda.” (LEANDRO MACHADO, DANILO VERPA E EMÍLIO SANT’ANNA)
Alguém passou de bicicleta e tentou levar meu celular na terça-feira (21), no centro de São Paulo, nas proximidades de onde policiais militares e usuários de drogas da cracolândia entraram em confronto dois dias depois.
Eu caminhava por volta das 12h30 na avenida Duque de Caxias, a uns 100 metros de distância de uma base da Polícia Militar que fica na esquina da via com a avenida Rio Branco, na praça Princesa Isabel. Senti uma pancada no rosto, mas consegui segurar o aparelho.
Fui até a base comunicar o ocorrido e ouço do PM: “Então, você precisa ligar para o 190”. Ora, eu estava indo na polícia, e a orientação é ligar para a polícia? “Não posso sair daqui”, disse o policial.
Precisei insistir para receberummínimodeatendimento, que se limitou a anotar meu nome e RG numa ficha. E ainda tive que sugerir que anotassem as características do sujeito, que foram apontadas em uma cadernetinha...
Chegou um segundo PM, que disse: “Não podemos fazer nada porque não houve crime”. Tenta me convencer que tentativa de roubo não é crime, e que, mesmo que fizessem algo, de nada adiantava, porque o suspeito só assinaria um termo na delegacia e iria embora.
Pergunto se ao menos a queixa seria registrada. Eles dizem que sim, “aqui com a gente”, sem reporte à Secretaria de Segurança Pública do governo de São Paulo.
Todo o “atendimento” foi para me desestimular a tomar qualquer atitude. Sem queixa não há trabalho nem registro da ocorrência; logo, a região, estatisticamente, torna-se mais segura.
Tento registrar boletim de ocorrência no sistema on-line da Segurança Pública; mas não há opção para tentativa de roubo/furto.
Pelo menos na Ouvidoria da Polícia, onde registrei reclamação sobre o mau atendimento dos PMs, o cidadão recebe alguma atenção. OUTRO LADO Procurada, a secretaria da gestão Geraldo Alckmin (PSDB) informou que, segundo o meu relato enviado a eles, “o atendimento dos policiais não obedeceu ao protocolo estabelecido pela Polícia Militar” e que a conduta será apurada.
Em nota, a secretaria também disse que a ocorrência foi uma tentativa de furto, que não consta nas estatísticas oficiais da pasta, “motivo pelo qual não há que se falar em desvio dos números”.