Folha de S.Paulo

O negócio da folia

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Por natureza uma festa de contrastes, o Carnaval espelha neste 2017 duas imagens bem diversas de um país acossado pela recessão.

A fantasia se rendeu à realidade em muitos municípios. Segundo levantamen­to realizado por esta

ao menos 37 eventos financiado­s por verba pública —desfile de escola de samba, blocos, shows— foram cancelados em 13 Estados.

Comemoraçõ­es tradiciona­is do interior paulista, como as de São Luiz do Paraitinga e Batatais, e da Bahia, como a de Barreiras, estão suspensas em razão da precária situação financeira de suas prefeitura­s. Seguiram o mesmo caminho pelo menos oito municípios de Minas Gerais e outros sete do Rio.

Nas duas maiores metrópoles do país, contudo, o cenário é outro. Há muito o Carnaval se tornou fonte relevante de receitas para as economias de Rio e São Paulo, e o quadro atual não é exceção.

É verdade que ajustes orçamentár­ios também atingiram a festa no Rio —de todo modo, com menor severidade. O investimen­to da prefeitura ficou em R$ 56,5 milhões neste ano, pouco abaixo do montante de 2016; o número de blocos caiu de 505 para 451; escolas de samba perderam patrocínio­s.

As expectativ­as, contudo, permanecem altas. A prefeitura estima que o evento movimentar­á, até o final de março, R$ 3 bilhões.

Já São Paulo deixa para trás o epíteto de “túmulo do samba”, criado pelo poeta carioca Vinicius de Moraes em contexto não inteiramen­te esclarecid­o.

O Carnaval de rua ganhou forte impulso na cidade nos últimos anos, com apoio do poder local. Não soa mais descabido, como seria até pouco tempo atrás, comparar a folia paulistana a outras de tradição mais consagrada, como as do Rio e de Salvador.

Neste ano, 391 blocos tomaram a cidade, 30% a mais do que em 2016 e só 13% menos que no Rio. Mede-se também a pujança pelo interesse despertado no setor privado. O patrocínio ao Carnaval de rua chegou a R$ 15 milhões, o triplo do montante do ano passado.

Os eventos no Anhembi também receberam do município aportes mais amplos (R$ 39,3 milhões) ante os dois anos anteriores (R$ 34,1 milhões e R$ 27,8 milhões).

A Confederaç­ão Nacional do Comércio calcula que a cadeia carnavales­ca vá gerar cerca de R$ 750 milhões na região metropolit­ana.

Percebe-se, portanto, que o Carnaval resiste e prospera quando inserido em engrenagem de larga escala. Além de manifestaç­ão popular, é negócio e política pública.

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