Folha de S.Paulo

Padilha pede licença e deve virar alvo da Procurador­ia

Amigo de Temer disse que recebeu pacote de um empresário a pedido dele

- MARINA DIAS GUSTAVO URIBE LEANDRO COLON

Revelação tornou a permanênci­a de Padilha no governo muito difícil, avaliam aliados do presidente

Aliados do presidente Michel Temer avaliam que a permanênci­a do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, no governo tornou-se “muito difícil” após ele ter sido implicado pelo advogado José Yunes no episódio de entrega de um pacote por um operador ligado ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.

Um dos principais auxiliares de Temer, Padilha pediu licença do cargo citando motivos de saúde, viajou na quarta-feira (22) a Porto Alegre, onde tem residência, e deve passar, neste fim de semana, por uma cirurgia para a retirada da próstata.

Segundo a Folha apurou, assessores presidenci­ais acreditam que ele prolongará sua licença —inicialmen­te programada para até 6 de março— para dar tempo a Temer.

Em depoimento à Procurador­ia-Geral da República no último dia 14, e também em entrevista à Folha, José Yunes, amigo e ex-assessor de Temer, afirmou ter recebido, a pedido de Padilha em 2014, um “pacote” em seu escritório, entregue por Lúcio Bolonha Funaro, ligado a Cunha.

A versão coincide com trechos da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, de que Padilha orientou entregar a Yunes parte de R$ 10 milhões negociados entre a empreiteir­a e Temer para a eleição de 2014.

Após a declaração do ex-assessor de Temer, a PGR avalia ser inevitável pedir ao STF (Supremo Tribunal Federal) a abertura de um inquérito para investigar a conduta do chefe da Casa Civil. O pedido, segundo a Folha apurou, deve ocorrer já no início de março.

Padilha ainda não se manifestou sobre as declaraçõe­s do ex-assessor do Planalto.

Auxiliares próximos a Temer afirmam que a permanênci­a de Padilha no governo ficou complicada, mas que Moreira Franco Ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a da República

Ex-secretário de Parcerias, virou ministro em fevereiro, em decisão contestada na Justiça. Delator o citou 34 vezes, relatando suposto pedido de contribuiç­ão do então ministro de Dilma Eliseu Padilha Ministro da Casa Civil

Também citado na delação da Odebrecht, aparece 45 vezes em depoimento de Cláudio Melo. Recentemen­te, veio à tona pedido de ajuda dele a ministro em disputa de interesse particular no RS ASSESSORAM­ENTO Principal pasta de assessoram­ento da Presidênci­a, responsáve­l pela articulaçã­o política e pela gerência administra­tiva de programas e estruturas é preciso esperar o resultado da cirurgia.

Na semana passada, o presidente anunciou publicamen­te uma linha de corte para os integrante­s de seu governo que, assim como ele, são citados na Lava Jato.

Caso seja denunciado, o auxiliar será afastado temporaria­mente de seu cargo. Se virar réu, será demitido. Padilha, porém, ainda não se encaixa nessas duas condições.

Cláudio Melo Filho afirmou em delação premiada ter participad­o Geddel Vieira Lima Ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo

Caiu após ser acusado pelo ex-ministro da Cultura Marcelo Calero de tê-lo pressionad­o a liberar a construção de prédio; aparece em 67 trechos da delação de um jantar no Palácio do Jaburu, em 2014, com o então presidente da empreiteir­a, Marcelo Odebrecht, Temer e Padilha. Na ocasião, contou Melo Filho, Temer pediu apoio financeiro ao PMDB para a eleição daquele ano.

Ainda de acordo com a delação, a empreiteir­a fechou o pagamento de R$ 10 milhões ao partido, sendo que R$ 4 milhões ficariam sob responsabi­lidade de Padilha.

Melo Filho diz ainda que um dos pagamentos foi feito no escritório de advocacia de José Yunes, em São Paulo.

Agora, Yunes conta que, em meio à campanha eleitoral, recebeu um telefonema de Padilha. Ele queria que Yunes recebesse em seu escritório alguns “documentos”, que depois seriam retirados por um emissário.

Funaro, hoje preso, apareceu no escritório “trazendo um pacote”, afirma Yunes.

O empresário diz que até hoje não sabe qual era o conteúdo desse pacote.

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O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, durante cerimônia voltada à educação no Palácio do Planalto, no ano passado

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