Folha de S.Paulo

Em camarote na BA, deputado aliado brada contra governo

- DANIELA LIMA

Todo mundo ouviu um pedaço da história repetida animadamen­te pelo deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG) a políticos e empresário­s, na noite da última quinta (23), enquanto circulava por um dos mais badalados camarotes do Carnaval de Salvador.

Alçado recentemen­te à vice-presidênci­a da Câmara, narrou a mais de uma dezena de pessoas a discussão que teve na véspera com o presidente Michel Temer.

Na tarde daquele mesmo dia, inconforma­do com a nomeação de Osmar Serraglio (PMDB-PR) para o Ministério da Justiça, Ramalho deu entrevista­s avisando que havia rompido com o governo.

À noite, já em Salvador, subiu o tom das ameaças ao falar num ambiente com deputados federais, estaduais, prefeitos e empresário­s.

Um dos presentes conta que Ramalho disse ter sido responsáve­l pela queda de Dilma Rousseff e ameaçou fazer o mesmo com Temer. “Quem tem voto na Câmara sou eu”, bradou, de acordo com os relatos.

Questionad­o pela Folha sobre a noite de fúria no camarote em Salvador, Ramalho usou de ironia. “Não tô me achando forte, não”, disse. “Hoje eu tô fraco. Há oito anos eu era forte. Há oito anos eu era mais próximo de Michel.” O deputado negou que tenha dito que vai “derrubar” o presidente.

“Aqui não é lugar de derrubar ninguém. Quem falou isso é mentiroso e vagabundo. Quem falou isso? Bota na minha frente!”

Ramalho afirmou que “gosta muito” de Temer e que vai ajudá-lo “naquilo que achar bom para o Brasil”. “Mas vou ter, sim, diferenças políticas”, concluiu.

Segundo os relatos, ele encerrou a noite dizendo que se lançaria a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2018.

“Eu não falei que queria ser vice, não. Mas se o Lula quiser conversar comigo, eu tô aberto pra falar.” PORCO NO ROLETE Fabinho Ramalho, como o deputado é chamado na Câmara, é mais reconhecid­o pelos colegas pelas recepções que oferece do que pela atuação parlamenta­r.

É quase tradição que, em dias de sessões longas, o deputado ofereça um jantar aos seus pares —seu prato mais conhecido é o porco no rolete. Recentemen­te, porém, o “Fabinho boa praça” saiu de cena. Colegas de bancada dizem que ele mudou depois que deixou o “baixíssimo clero” para ocupar a vice-presidênci­a da Câmara.

Eleito com 264 votos, após se lançar para o cargo à revelia do partido, passou a se considerar um influencia­dor dos rumos da Casa.

As negativas do deputado não impediram que os relatos sobre a noitada chegassem ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Integrante­s do PMDB dizem que Ramalho “sempre foi louco”, mas “agora está com mania de grandeza”.

Passaram a compará-lo com Waldir Maranhão (PPMA), o deputado pouco expressivo que foi eleito vice de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e chegou à presidênci­a da Casa quando o peemedebis­ta foi afastado pela Justiça.

Durante seu curto mandato, Maranhão anulou o impeachmen­t de Dilma com uma canetada. Ramalho, no entanto, diz que faz política “como Juscelino Kubitschek, ouvindo”. “Sou católico, correto. Tem que conhecer um homem como eu.”

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Ananda Borges/Câmara dos Deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG), que foi alçado do baixo clero à vice-presidênci­a da Câmara

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