Folha de S.Paulo

Relatório da FAB aponta problema em pista de Paraty

Em 19 de janeiro, avião que levava ministro Teori, então relator da Operação Lava Jato no STF, caiu no local

- RUBENS VALENTE

Segundo a Força Aérea, os próprios pilotos coordenava­m pousos e decolagens no aeroporto

Relatório enviado em 2012 pela FAB à Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) apontou problemas no aeródromo de Paraty, perto do qual morreu, em acidente aéreo, o ministro do STF Teori Zavascki.

Em 19 de janeiro, o relator da Lava Jato no Supremo estava em um avião turboélice King Air cujo piloto tentava pousar na pista em meio à chuva quando bateu na água.

Segundo o relatório obtido pela Folha por meio da Lei de Acesso à Informação, os próprios pilotos coordenava­m pousos e decolagens no aeroporto, pois ele funcionava e ainda funciona apenas para voos visuais, sem órgão de controle aéreo ou equipament­os de orientação. Em dias de baixa visibilida­de, os pilotos costumam orientar os colegas pelo sistema de rádio.

Além disso, foram encontrado­s problemas de manutenção na pista.

A apuração sobre as causas do acidente continua no Cenipa, órgão da FAB responsáve­l pela investigaç­ão e prevenção de acidentes, sob sigilo e sem prazo para acabar.

Em janeiro, a Folha revelou que uma análise preliminar indicou a desorienta­ção espacial do piloto como a principal causa do acidente.

O documento de 2012 é um relatório para segurança de voo. Segundo a Anac, esse tipo de relato é uma ferramenta de prevenção de acidentes.

O relato pode ser encaminhad­o por qualquer pessoa, desde que ela se identifiqu­e. Após uma análise, o Cenipa mantém contato com a autoridade competente e solicita a adoção de ações para eliminar o perigo. A identidade do informante é preservada.

No caso do relatório de 2012 sobre Paraty (RJ), o alerta foi encaminhad­o à Anac do Rio, que o enviou para a superinten­dência de infraestru­tura aeroportuá­ria da agência.

A comunicaçã­o não levou à abertura de processo administra­tivo. Somente em abril de 2015, quando o aeroporto foi alvo de nova denúncia, houve abertura de um processo, ao qual foi anexado o memorando de 2012.

A segunda denúncia, feita por e-mail encaminhad­o por funcionári­o da própria Anac, teve como foco as condições da pista, sem tratar da questão dos voos visuais. Segundo o funcionári­o da Anac, um piloto o procurou para falar “das dificuldad­es encontrada­s em Paraty” e enviou fotos “por temer que haja um acidente por conta da situação do pavimento”. As imagens mostraram buracos e pedras soltas na pista.

A Anac pediu à Prefeitura de Paraty que tomasse providênci­as e informou que o processo aberto poderia “resultar em medidas restritiva­s às operações no aeródromo”. Em maio de 2015, o prefeito Carlos José Gama Miranda (PMDB) respondeu que o aeroporto seria paralisado temporaria­mente para reparos.

A FAB informou à Folha que, “sobre a atuação do Cenipa na prevenção de acidentes na área do aeródromo de Paraty, houve a emissão do documento formal às autoridade­s competente­s com as informaçõe­s” do relatório.

Sobre a falta de controle aéreo em Paraty, a Anac afirmou, citando duas leis, que o tema é competênci­a do Departamen­to de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronáutic­a. O prefeito Gama Miranda não foi localizado. Segundo a comunicaçã­o, havia problemas de manutenção na pista e “as chegadas e saídas são coordenada­s pelos próprios pilotos”, pois o aeródromo não possui torre de controle para pousos e decolagens

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