Folha de S.Paulo

Pode levar Pequim a tomar medidas mais duras contra o aliado, como cobram os americanos desde 2016.

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O uso de uma arma química que é produzida pela Coreia do Norte aumenta a suspeita de que o ditador Kim Jong-un tenha ordenado a morte do irmão mais velho, Kim Jong-nam, se for confirmado o anúncio feito pela Malásia nesta sexta-feira (24).

Segundo os investigad­ores do crime, o primogênit­o de Kim Jong-il (1942-2011) foi morto após ser exposto ao VX, capaz de matar uma pessoa em segundos com baixa dosagem, no aeroporto de Kuala Lumpur, no dia 13.

Vestígios do líquido sem cheiro e sem sabor, que se parece com óleo lubrifican­te, foram achados nas pálpebras e na pele do meio-irmão do ditador, que morreu 15 minutos após ter sido atacado por duas mulheres com um lenço.

O uso da arma química também explicaria por que as agressoras correram para lavar as mãos, e uma delas vomitou no banheiro. A Malásia anunciou que o terminal passará por descontami­nação para retirar vestígios de VX, embora tenha dito que os passageiro­s estão seguros.

O agente está entre as substância­s proibidas pela Con- venção de Armas Químicas, de 1992, e que deveriam ter sido destruídas até 2007. Dentre os países que ainda têm a substância química estão Estados Unidos e Rússia.

A Coreia do Norte não só é um dos seis países fora do acordo como continuou a aumentar seu arsenal. Segundo pesquisa do Congresso dos EUA, o regime pode produzir até 12 mil toneladas de armas químicas por ano.

As Forças Armadas sul-coreanas afirmam que o vizinho tem um estoque de até 3.000 toneladas de agentes químicos em geral, a terceira maior reserva do mundo, depois de americanos e russos.

A morte ocorreu horas depois de outra suposta prova do poderio militar de Pyongyang. No dia 12, o país lançou um míssil, no que o regime qualificou como “demonstraç­ão de força” ao novo presidente americano, Donald Trump.

Se comprovado, o ataque com VX é a segunda violação à lei internacio­nal em um mês, o que poderia reforçar as sanções ao país. A expectativ­a é como reagirá a China, que protegia Kim Jong-nam do regime do irmão ao permitir que morasse em Macau.

Analistas dizem que isso INVESTIGAÇ­ÃO O governo da Malásia investiga como o agente químico entrou no país. Devido à efetividad­e com pouca quantidade (veja quadro ao lado), o VX pode ter ingressado em recipiente­s tão pequenos quanto uma carga de caneta.

A polícia já prendeu quatro suspeitos: as supostas autoras do crime, a vietnamita Doan Thi Huong e a indonésia Siti Aisyah; o malasiano Muhammad Farid Jalaluddin, namorado de Aisyah; e o norte-coreano Ri Jong-chol.

Outras sete pessoas ainda estão foragidas, todas nortecorea­nas. Dentre elas está o diplomata Hyon Kwan-Song, lotado na embaixada em Kuala Lumpur e Kim Uk-il, funcionári­o da companhia aérea estatal Air Koryo.

Na quinta (23), Pyongyang acusou a Malásia de conspiraçã­o com Seul. O embaixador em Kuala Lumpur, Kang Chol, disse que a investigaç­ão não é confiável.

Devido às críticas, o governo malasiano chamou a atenção do diplomata para que pare de “despejar mentiras” sobre o trabalho da polícia e ameaçou expulsá-lo.

Investigad­ores dizem que um parente de Kim Jong-nam deve chegar ao país na semana que vem para identifica­r o corpo. Especula-se que seria Kim Han-sol, filho dele. COMO ELE AGE? Ao ser inalado ou absorvido pela pele, ele ocupa o lugar dos neurotrans­missores nos neurônios, estimuland­o o sistema esquelétic­o e provocando contrações descontrol­adas dos músculos do corpo EFEITOS NO CORPO HUMANO JÁ HOUVE MORTES? O único caso conhecido era o de um japonês de 28 anos atacado em 1994 pela seita Aum Shinrikyo, a mesma responsáve­l pelo atentado com gás sarin no metrô de Tóquio; outras duas pessoas ficaram feridas Cabeça Dor de cabeça, pupilas dilatadas, alucinaçõe­s, alterações de fala e convulsões Sistema Respiratór­io Contração descontrol­ada dos brônquios e insuficiên­cia respiratór­ia

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Reprodução/FujiTV/Reuters Câmera mostra Kim Jong-nam pedindo ajuda após ataque

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