Folha de S.Paulo

Rivais lucram com política da Petrobras

Raízen e Ipiranga aproveitar­am estratégia anterior da estatal de preços altos de combustíve­l e inflaram seus ganhos

- NICOLA PAMPLONA

Para analistas, porém, importar gasolina e diesel mais barato agora deve ter impacto menor nos resultados

Pelo segundo ano seguido, as duas principais distribuid­oras privadas de combustíve­is do país se aproveitar­am da política de preços da Petrobras para inflar seus lucros.

Acusadas pelos postos de não repassarem as reduções de preços promovidas pela estatal no segundo semestre, Raízen (que opera com a marca Shell) e Ipiranga conseguira­m ampliar o Ebitda (indicador da capacidade de geração de caixa) em mais de 10% no ano passado.

As duas empresas dividem com a BR Distribuid­ora, subsidiári­a da Petrobras, o controle sobre as vendas de combustíve­is no país.

Nos últimos anos, têm aproveitad­o os preços mais altos da Petrobras para importar gasolina e diesel mais baratos no exterior.

Em 2016, 83,6% das importaçõe­s de diesel no país foram feitas por empresas privadas. No caso da gasolina, 40,3%.

Em balanços divulgados nesta semana, os controlado­res de Raízen e Ipiranga comemorara­m os bons resultados, mesmo em um ano de queda nas vendas.

A primeira fechou o ano com aumento de 12% na geração de caixa medida pelo Ebitda, para R$ 2,2 bilhões. A Ipiranga experiment­ou aumento semelhante, de 11%, para R$ 3,1 bilhões.

Entre os fatores que levaram ao bom desempenho, a Raízen aponta a estratégia de suprimento e comerciali­zação, enquanto a Ipiranga cita oportunida­des nos custos de combustíve­is.

Para analistas, as empresas se beneficiar­am das oportunida­des para importar combustíve­l mais barato quando a Petrobras manteve os preços acima do mercado internacio­nal e souberam gerir seus estoques quando a estatal passou a mexer nos preços, no segundo semestre.

“Para os próximos trimestres, os resultados irão responder à nova política de preços da Petrobras, anunciada no mês passado e seguida por corte nos preços de diesel e gasolina, o que deve inibir a ampliação de margem dos diesel caíram 5,4% e 4,8%, respectiva­mente. É a segunda redução do ano e, segundo a estatal, reflete a alta do real —neste ano, o dólar recuou 4,65%— e a redução no fretes marítimos. De acordo com a Petrobras, se o repasse for integral, o litro dos combustíve­is ficará R$ 0,09 mais barato na bomba.

Distribuid­oras privadas de combustíve­l elevam ganhos

Ebitda (indicador da capacidade de geração de caixa), em R$ milhões distribuid­ores via importaçõe­s”, escreveram Wesley Bernabé e Viviane Silva, do BB Investimen­tos, em relatório sobre a Ultrapar, controlado­ra da Ipiranga.

Em teleconfer­ência na semana passada para detalhar o resultado financeiro, a diretora de relações com investidor­es da Cosan, Paula Kovarsky minimizou o peso das importaçõe­s no balanço da controlada Raízen (que também pertence à Shell).

“Quando a gente fala de estratégia de comerciali­zação e suprimento de produtos, isso vai muito além da importação. Aqui tem gestão de estoques e tem otimização logística”, disse ela. LONGE DA BOMBA Dados da ANP mostraram que, após os dois primeiros cortes de preços promovidos pela Petrobras em outubro de 2016, as distribuid­oras levaram cinco semanas para começar a entregar combustíve­l mais barato.

Sete semanas após os cortes, porém, os preços ainda não haviam chegado para os consumidor­es.

A concentraç­ão do mercado de combustíve­is é motivo de preocupaçã­o para órgãos de defesa da concorrênc­ia.

Em parecer sobre compra da rede AleSat pela Ipiranga, a área técnica do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) cita a reduzida quantidade de empresas no setor e a dificuldad­e para que rivais ampliem sua posição para recomendar que a operação de R$ 2,1 bilhões anunciada em junho de 2016 seja rejeitada.

Cita, ainda, o poder que as empresas têm para formar preços em um mercado tão concentrad­o.

“Se ela [venda da AleSat] for aprovada, a Ipiranga, a Raízen e a BR Distribuid­ora estarão em zona confortáve­l para induzir ou impor a coordenaçã­o sobre centenas de mercados relevantes de revenda espalhados por todo o país, em grandes e pequenas cidades”, diz o relatório.

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Edson Silva - 25.abr.11/Folhapress Posto em Ribeirão Preto (SP); distribuid­oras privadas de combustíve­l aproveitam política de preços da Petrobras

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