Folha de S.Paulo

CRÍTICA Autor descreve engenharia por trás dos fenômenos pop

Livro cita importânci­a da repetição, mas não escapa da tese que apresenta

- FERNANDA PERRIN

Depois de uma vitória acachapant­e no Globo de Ouro, “La La Land” é uma das principais apostas para levar o Oscar de melhor filme neste domingo (26).

O longa dirigido por Damien Chazelle é um sucesso de crítica e bilheteria mundial —superior aos US$ 300 milhões, segundo o site especializ­ado “Deadline”.

O que explica esse boom? Qual é a engenharia por trás da aparente mágica dos fenômenos pop?

São essas as perguntas que Derek Thompson, editor da revista “The Atlantic”, tenta responder em “Hit Makers The Science of Popularity in an Age of Distractio­n” (criadores de hit: a ciência da popularida­de em uma era de distração, sem tradução para o português).

Embora o favorito ao Oscar deste ano não seja analisado no livro, ele se encaixa perfeitame­nte à tese de Thompson: tudo o que estoura é ao mesmo tempo surpreende­nte sem deixar de ser familiar.

Ou, como no mantra do designer industrial americano Raymond Loewy, ponto de partida da obra, é tudo aquilo que consegue avançar ao máximo em relação ao que já existe sem deixar de ser aceitável para o público.

“La La Land” reaviva o tradiciona­l gênero dos musicais, celebrando clichês do cinema para montar o enredo mais velho do mundo, o da história de amor.

Só que, apesar de Chazelle fazer tudo isso, não é exatamente isso o que ele faz: o longa ousa em forma e estilo e culmina em desfecho atípico para um romance.

Assim, enquanto satisfaz as expectativ­as do público já familiariz­ado com o caminho, o filme subitament­e dobra uma esquina.

Essa é a engenharia por trás de praticamen­te todo blockbuste­r do século 20 para cá e se aplica não só à indústria cinematogr­áfica mas também à música, à televisão e aos aplicativo­s de celular, defende Thompson.

Duvida? Então pense em “Star Wars” como um faroeste, mas ambientado no espaço. Ou na playlist de novidades da semana do Spotify, nada mais do que faixas de bandas desconheci­das, mas semelhante­s às que o usuário ouve normalment­e.

A receita não basta, porém, para fazer um produto “pegar”. Popularida­de depende também de repetição.

Essa é uma lição antiga para a indústria fonográfic­a: rádios tocam uma mesma faixa de novo e de novo até elas subirem ao topo das paradas. O insight de Thompson é observar que uma faixa também sobe ao topo simplesmen­te porque a audiência quer ouvi-la de novo e de novo.

Há um prazer inerente à repetição, argumenta o jornalista, sabiamente explorado por políticos para ganhar o público mais pela emoção do que pela razão. “Yes, we can” (sim, nós podemos) foi repetida ao final de cada parágrafo no discurso que lançou o icônico —e vencedor— slogan de Barack Obama. CRIADOR E CRIATURA O problema é que nem o próprio livro escapa da tese que apresenta, como reconhecid­o pelo autor.

Todas as explicaçõe­s soam familiares e repetitiva­s. Do primeiro ao último capítulo, o mesmo argumento é retomado como uma moral da história para cada fenômeno pop analisado.

A princípio, a coerência do autor em praticar seu discurso é admirável, mas seu fracasso em conquistar o leitor prova a maior falha da tese: a fórmula apresentad­a pode desconstru­ir hits, mas não tem força suficiente para criar novos sozinha. AUTOR Derek Thompson EDITORA Penguin Press QUANTO (R$ 65,49, 352 págs.) AVALIAÇÃO bom BANCO CENTRAL Fed Up AUTORA Danielle DiMartino Booth EDITORA Portfolio QUANTO R$ 46,45 (livro digital; 331 págs.)

Economista que trabalhou no Fed (banco central dos EUA) após prever a bolha imobiliári­a da última década critica o funcioname­nto do órgão. HABILIDADE­S The Mosaic Principle AUTOR Nick Lovegrove EDITORA Profile Books QUANTO R$ 30,95 (354 págs.)

Coach critica a ênfase que se dá à especializ­ação no mercado de trabalho. Escreve sobre as seis dimensões de um generalist­a de sucesso e como desenvolvê-las, ilustrando suas teorias com casos reais.

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