PMDB é acusado de receber toda propina de Belo Monte
DE BRASÍLIA
O PMDB é apontado por um delator da Odebrecht como único beneficiado em um esquema de distribuição de propina das empresas que construíram a usina de Belo Monte, no Pará.
Ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, conhecido como BJ, disse à Justiça Eleitoral no dia 2 de março que a maior obra do governo petista não rendeu propina ao PT, devido a uma orientação de Marcelo Odebrecht, ex-presidente e herdeiro do grupo.
A Folha teve acesso à íntegra do depoimento ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no TSE.
Nele, BJ menciona o senador Edison Lobão (PMDBMA) como o beneficiário de valores vinculados à obra. Ele cita ainda um “deputado ou ex-deputado” do Pará.
“Quando recebi o projeto, foi-me informado que havia alguns compromissos assumidos lá na partida. E esses compromissos estavam destinados a dois partidos, sendo que um dos partidos... havia uma orientação de Marcelo de que não deveríamos fazer as contribuições —era o PT. E o PMDB tinha as pessoas que tratavam lá com os executivos anteriores a mim. O que conheço do assunto é isso. Não houve nada ao PT especificamente feito por Belo Monte por orientação do próprio Marcelo”, declarou.
O relator perguntou: “Mas em relação ao PMDB houve?”. “Houve e está no relato das pessoas”, respondeu BJ.
O advogado de Lobão, Antonio Carlos de Almeida Castro, afirmou que “a fragilidade das delações é de tal monta que o recall [de delações] virou a regra”. “O delator pode mentir, omitir, proteger e se for pego terá a chance, até, de mentir de novo”, afirmou.
“Tenho denunciado os vazamentos criminosos e dirigidos. Eles têm que ser investigados, a defesa não conhece o teor das delações logo não pode saber o contexto do que foi dito. No caso concreto, dar valor a ‘ouvir dizer’ e a ‘salvo engano’ é desmoralizar o instituto da delação .”