Grupo diz que doações foram registradas
DE BRASÍLIA
Em depoimento ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Benedicto Júnior, delator e ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, classificou de “burla eleitoral” o esquema da empreiteira que utilizou a cervejaria Itaipava, do grupo Petrópolis, para disfarçar a participação em doações eleitorais em 2014.
Conhecido como BJ, o delator batizou o esquema de “caixa um travestido”. “Era uma burla eleitoral, se é que a gente pode chamar dessa maneira”, disse em depoimento no dia 2 de março ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2014. A Folha teve acesso ao documento.
A estratégia é classificada de “barriga de aluguel” pelo próprio relator. As siglas que receberam doação da cervejaria foram PDT, PSB, DEM, PT, PMDB e PCdoB. O total desembolsado foi R$ 24,8 milhões via doação oficial. Do total, a campanha de Dilma-Temer recebeu R$ 17,5 milhões.
Um esquema envolvendo Odebrecht e Itaipava usando um paraíso fiscal movimentou R$ 117 milhões, de acordo com as investigações. O dinheiro repassado pela cervejaria a políticos no Brasil era devolvido pela Odebrecht no exterior.
Segundo a Folha apurou, além da estratégia para mascarar a doação, a Odebrecht utilizou a cervejaria para gerar fluxo para seu Departamento de Operações Estruturadas, setor que contabilizava pagamentos de propina.
A empreiteira adquiria notas em reais da cervejaria, que tinha grande quantidade de moeda no Brasil devido aos bares e pequenos pontos de venda espalhados pelo país. O reembolso ao grupo era feito em contas no exterior.
Sobre o esquema, o ex-presidente
DE BRASÍLIA
O Grupo Petrópolis afirmou, por meio de sua assessoria, que suas “relações com a Odebrecht sempre foram profissionais”. Disse também que a Odebecht foi a empresa responsável por construir as fábricas da cervejaria.
Em relação a doações a partidos e políticos, a empresa relata que “todas as transações financeiras foram declaradas e herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, afirmou, também em depoimento ao TSE: “Conheço [o caso] da Itaipava. Ela fazia doação oficial e a gente encontrava uma maneira de reembolsar”.
“Eu tinha um problema que não consegui operar os créditos que eu tinha prometido. Não conseguia doar aquilo que tinha acertado. Aí, acho que usou a Itaipava e alguns outros terceiros”, disse Marcelo.
O grupo Petrópolis pertence ao empresário Walter Faria e atuou, segundo Benedicto Junior, como laranja para doar R$ 40 milhões a campanhas eleitorais de 2014.
Os beneficiários eram informados que parte da doação e que todas as doações de campanha seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas”. A nota afirma ainda que as doações foram feitas por meio de transferências eletrônicas.
O grupo Petrópolis não se manifestou especificamente sobre o relato de que teria vendido notas no Brasil e recebido o reembolso em contras fora do país.
A Odebrecht tem afirmado que não comenta delações sigilosas dos delatores ligados à empresa e que reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça.