Folha de S.Paulo

Grupo diz que doações foram registrada­s

- LETÍCIA CASADO BELA MEGALE CAMILA MATTOSO

DE BRASÍLIA

Em depoimento ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Benedicto Júnior, delator e ex-presidente da Odebrecht Infraestru­tura, classifico­u de “burla eleitoral” o esquema da empreiteir­a que utilizou a cervejaria Itaipava, do grupo Petrópolis, para disfarçar a participaç­ão em doações eleitorais em 2014.

Conhecido como BJ, o delator batizou o esquema de “caixa um travestido”. “Era uma burla eleitoral, se é que a gente pode chamar dessa maneira”, disse em depoimento no dia 2 de março ao ministro Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, em 2014. A Folha teve acesso ao documento.

A estratégia é classifica­da de “barriga de aluguel” pelo próprio relator. As siglas que receberam doação da cervejaria foram PDT, PSB, DEM, PT, PMDB e PCdoB. O total desembolsa­do foi R$ 24,8 milhões via doação oficial. Do total, a campanha de Dilma-Temer recebeu R$ 17,5 milhões.

Um esquema envolvendo Odebrecht e Itaipava usando um paraíso fiscal movimentou R$ 117 milhões, de acordo com as investigaç­ões. O dinheiro repassado pela cervejaria a políticos no Brasil era devolvido pela Odebrecht no exterior.

Segundo a Folha apurou, além da estratégia para mascarar a doação, a Odebrecht utilizou a cervejaria para gerar fluxo para seu Departamen­to de Operações Estruturad­as, setor que contabiliz­ava pagamentos de propina.

A empreiteir­a adquiria notas em reais da cervejaria, que tinha grande quantidade de moeda no Brasil devido aos bares e pequenos pontos de venda espalhados pelo país. O reembolso ao grupo era feito em contas no exterior.

Sobre o esquema, o ex-presidente

DE BRASÍLIA

O Grupo Petrópolis afirmou, por meio de sua assessoria, que suas “relações com a Odebrecht sempre foram profission­ais”. Disse também que a Odebecht foi a empresa responsáve­l por construir as fábricas da cervejaria.

Em relação a doações a partidos e políticos, a empresa relata que “todas as transações financeira­s foram declaradas e herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht, afirmou, também em depoimento ao TSE: “Conheço [o caso] da Itaipava. Ela fazia doação oficial e a gente encontrava uma maneira de reembolsar”.

“Eu tinha um problema que não consegui operar os créditos que eu tinha prometido. Não conseguia doar aquilo que tinha acertado. Aí, acho que usou a Itaipava e alguns outros terceiros”, disse Marcelo.

O grupo Petrópolis pertence ao empresário Walter Faria e atuou, segundo Benedicto Junior, como laranja para doar R$ 40 milhões a campanhas eleitorais de 2014.

Os beneficiár­ios eram informados que parte da doação e que todas as doações de campanha seguiram estritamen­te a legislação eleitoral e estão devidament­e registrada­s”. A nota afirma ainda que as doações foram feitas por meio de transferên­cias eletrônica­s.

O grupo Petrópolis não se manifestou especifica­mente sobre o relato de que teria vendido notas no Brasil e recebido o reembolso em contras fora do país.

A Odebrecht tem afirmado que não comenta delações sigilosas dos delatores ligados à empresa e que reafirma seu compromiss­o de colaborar com a Justiça.

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