Folha de S.Paulo

Acertados R$ 10 milhões para a campanha e que R$ 6 milhões foram pagos a Duda.

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DE BRASÍLIA

O marqueteir­o Duda Mendonça solicitou à Odebrecht, segundo um ex-executivo da empresa, um apartament­o como parte de seu pagamento por ter atuado na campanha de Paulo Skaf (PMDB) ao governo do Estado de São Paulo, em 2014.

Em depoimento à Justiça Eleitoral, Hilberto Mascarenha­s, que era o responsáve­l pelo departamen­to de operações estruturad­as da Odebrecht no início de 2015, disse que negou a solicitaçã­o. A Folha teve acesso à íntegra do depoimento.

“Ele veio me solicitar que eu compasse para ele um apartament­o em Salvador, num prédio novo que está lançando lá, que custava R$ 6,5 milhões, R$ 7 milhões. Disse: ‘Compra um apartament­o pra mim e nós estamos quites’”, relatou o ex-executivo em depoimento na ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tri- bunal Superior Eleitoral).

“Como é que eu compro oficial um apartament­o, boto no ativo da empresa, depois transfiro para o Duda Mendonça? Pelos seus belos olhos? Não existe, Duda, esqueça”, enfatizou Hilberto, que na época comandava a área responsáve­l por pagamentos ilícitos da empresa.

Duda pediu, então, que comprasse cavalos. “Olha Duda, não teremos fruto nessa reunião. Interrompa, vá embora, mande seu filho voltar aqui amanhã com outro tipo de mente, raciocínio, porque o que você vai receber é bufunfa, ou aqui ou em conta no exterior”, afirmou.

“Aqui não tem negócio de nota falsa, não tem nada disso, é pagamento em dinheiro, tchau e ‘bença’ e acabou a conversa”, finalizou.

Posteriorm­ente, o repasse foi combinado entre o filho do Duda e Fernando Migliaccio, funcionári­o de Hilberto.

Segundo o delator, o dinheiro fazia parte de uma doação combinada para a campanha de Skaf e que ficou em aberto após o pleito terminar.

Hilberto disse que foram OUTRO LADO O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, candidato a governador em 2014 pelo PMDB, disse ter total desconheci­mento do assunto e afirmou considerar um absurdo as informaçõe­s de que despesas de sua campanha política foram pagas com recursos de caixa dois.

Procurado pela reportagem, o marqueteir­o Duda Mendonça não respondeu às mensagens enviadas nem os contatos feitos pela Folha para ouvir sua posição sobre as negociaçõe­s que tem travado com a Procurador­ia-Geral da República sobre dinheiro de caixa dois recebido da Odebrecht por campanhas políticas feitas por ele.

A reportagem procurou quatro advogados que já trabalhara­m com o marqueteir­o nos últimos anos para um posicionam­ento. O único que se manifestou foi o escritório Lira Rodrigues, Coutinho & Iunes Advogados, de Brasília.

Afirmou ter sido contratado por Duda há cerca de três meses para auxiliar em eventuais esclarecim­entos solicitado­s pelas autoridade­s sobre suas campanhas.

O escritório disse, porém, que não haveria nenhuma negociação em andamento de acordo de delação do marqueteir­o, que atuou na campanha de Skaf em 2014, e declarou que não comentaria as informaçõe­s apuradas pela reportagem.

A Odebrecht não se pronunciou. (BELA MEGALE, LETÍCIA CASADO E CAMILA MATTOSO)

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