Antes de ‘Moby Dick’, Melville fez relato enciclopédico de marujo que vai ao Rio
FOLHA
“Nãodeixonadapassar,por menor que seja”, anota o narrador de “Jaqueta Branca ou o Mundo em um Navio de Guerra”, de Herman Melville, lançado em 1850 (um ano antes da obra-prima “Moby Dick”) e publicado pela primeira vez no Brasil em edição caprichada. Ele não está brincando.
Disposto a “registrar as menores trivialidades relacionadas a coisas que estão fadadas a desaparecer totalmente da Terra”, o autor dedica um detalhismo enciclopédico ao registro de sua experiência de 14 meses como marujo a bordo do “USS United States”, aqui rebatizado de “Neversink”(Nunca-Afunda). explicado e situado num
“JaquetaBranca”nãoébem complexoedifíciohierárquico. um romance. Parte crônica de A condição de clássico que viagem, parte reportagem ficcionalizada o escritor adquiriu postumamente para ocultar a garante a importância identidade dos personagens, do livro para estudiosos de literatura. éaindaumlibelocontraodespotismo O retratista de tipos, da Marinha, sobretudo o leitor de clássicos, o humorista contra os castigos físicos e o estilista estão preservados impostos aos marinheiros. pela boa tradução.
Como propaganda política, Melville tinha razão, porém, a obra foi um sucesso. Citando-a ao considerar “Jaqueta como inspiração, o Branca” uma obra menor, escrita Congresso americano aboliu em apenas dois meses. aschibatadasnaMarinhameses Recheado de episódios que após seu lançamento. vale a pena garimpar, o livro
Seu valor para historiadores como um todo se ressente de náuticos é incalculável. O um certo tom de relatório. olhar de Melville flagra tanto O único fio condutor romanesco, a arquitetura física quanto a a desajeitada “jaqueta social:cadacentímetrodonavio branca” que o narrador fabrica é esquadrinhado por descriçõesmeticulosasecadaofício, para si e que quase o mata no fim, é frágil demais para evitar as calmarias. Talvez uma caça à baleia —também branca—funcionassemelhor?
Paraoleitorbrasileiro,amelhor surpresa está no miolo, nascercadecempáginasque, apartirda174,mostramo“Neversink”noRio.Exaltadocom abelezadapaisagem,onarrador quebra então sua promessadenãofalardenadaqueesteja fora do navio.
Seu entusiasmo é temperado por comédia quando um jovem dom Pedro 2º, homem de modos “mais que impecáveis”, sobe a bordo em visita de cortesia e provoca a ira de um marujo falastrão. “O verdadeiro imperador aqui sou eu!” A curiosa parte “brasileira” já seria suficiente para recomendar o livro. AUTOR Herman Melville TRADUÇÃO Rogério Bettoni EDITORA Carambaia QUANTO R$ 103,90 (464 págs.) AVALIAÇÃO bom