Combate a obesidade e sedentarismo depende não só de força de vontade,
Mas de ações para coibir abusos da indústria alimentícia e da publicidade
Adotar um estilo de vida saudável é um dos fatores mais importantes na prevenção de doenças, mas, para mudar hábitos, não basta apenas ter força de vontade.
É preciso um programa de políticas públicas contra obesidade, sedentarismo, tabagismo e outros fatores de risco para doenças crônicas, afirmam os participantes do 4º Fórum A Saúde do Brasil, que abordou, em seu segundo dia, a prevenção.
“Não vamos dar um passo sem que se façam investimentos em políticas públicas. E a indústria de alimentos vai ter que participar”, afirmou Hélio Fernandes da Rocha, pediatra da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Paula Johns, diretora-executiva da ACT Promoção da Saúde (Aliança Contra o Tabagismo), concorda. “Não é possível ter um comportamento saudável se o ambiente não permite”, diz. Ela criticou ainda o “bombardeio” de publicidade de produtos não saudáveis que atinge principalmente as crianças.
Fernandes da Rocha e Johns defenderam a taxação de alimentos ultraprocessados, um dos principais fatores que levam a obesidade.
Segundo ela, a indústria, além de produzir alimentos cheios de calorias vazias (sem valor nutricional), acrescenta ingredientes e aditivos para torná-los ultrapalatáveis (mais prazerosos ao paladar).
“Isso é uma prática criminosa. Estudos mostram que não dá para competir com a ultrapalatibilidade”, diz a endocrinologista Daniela Telo, do Hospital das Clínicas.
Além da sobretaxa, os especialistas defenderam ainda a regulação tanto da produção quanto da publicidade desses alimentos. NOVOS HÁBITOS Educação, em casa e na escola, e atitudes individuais também contam. Mesmo pequenas mudanças, como cozinhar com os filhos.
“Falta bom senso. Deixamos de fazer coisas básicas, como sentarmos juntos à mesa para as refeições”, disse o pediatra Sérgio Spalter, do hospital Albert Einstein.
A atriz Cristiana Oliveira destacou a sensação de prazer de ter uma vida mais saudável com a prática de exercícios físicos e uma alimentação mais equilibrada. E criticou as pessoas que recorrem a fórmulas rápidas e arriscadas apenas para seguir “a ditadura da magreza”.
Com novas tecnologias e a facilidade de acesso a milhares de produtos com apenas um toque na tela do celular, ficou ainda mais fácil poupar energia, o que já era uma característica inerente à espécie humana, lembrou o fisiologista e médico do esporte Paulo Zogaib.
“Hoje, há muito mais conforto, muito mais alimentos disponíveis. Isso leva as pessoas a se tornarem sedentárias”, afirmou o consultor e professor de educação física Marcio Atalla.
Para o ultramaratonista e jornalista Rodolfo Lucena, não há incentivo ao movimento. “O pessoal fica em escritório o dia inteiro sentado em frente ao computador.”
Os palestrantes cobraram programas de combate ao sedentarismo nas escolas e voltados a adultos e idosos.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, abriu o segundo dia de debates com críticas à judicialização na saúde, que, segundo ele, custa cerca de R$ 7 bilhões por ano, dinheiro que poderia ser usado em serviços do SUS, e defendeu a prevenção como forma de economizar recursos.
O evento, realizado no MIS, em São Paulo, foi promovido pela Folha e patrocinado por FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), Amil e Abimed (Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde). (EVERTON LOPES BATISTA, DANTE FERRASOLI E IARA BIDERMAN)