Folha de S.Paulo

Pesquisa de opinião

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RIO DE JANEIRO - Em Fontamara, no alto do morro da região mais miserável da Itália, o governo fascista de Mussolini mandou uma comissão do partido fazer uma espécie de plebiscito entre os “cafoni” (camponeses) para saber o que eles pensavam politicame­nte.

O líder dos fascistas perguntou ao sapateiro: “Viva quem?”. A resposta foi respeitosa: “Viva a rainha Margarida!”; “A rainha Margarida já morreu”. O mesmo inquisidor escreveu ao lado: “alienado”. O segundo a ser interrogad­o respondeu: “Abaixo os ladrões”. Foi classifica­do como anarquista. O terceiro não sabia dizer “vivas”. Só sabia dizer “abaixo” e respondeu: “Abaixo os impostos”. Também foi classifica­do como anarquista.

O “cafone” seguinte foi Rafael Scarpone, que gritou: “Abaixo os bancos”. Foi classifica­do como comunista. Um outro gritou de mãos postas: “Viva a Virgem de Loreto”. Um outro discordou. Mas foi contestado, alguém reclamou: “Viva São Roque”. Foi anotado como clerical. O sacristão preferiu dar o viva ao “pão e ao vinho”.

Della Croce, alfaiate, considerad­o um homem prudente e sábio, percebendo que nenhuma das respostas satisfazia a comissão de fascistas, subindo num caixote, proclamou: “Vivam todos!”. O chefe dos fascistas mandou anotar: “liberal”.

Uliva berrou com emoção: “Viva o governo!”. “Qual governo?”, perguntara­m. “O governo legítimo.” Foi definido como “patriota”. Em seguida, o lavrador Sexta-Feira Santa respondeu: “O governo ilegítimo”. Foi anotado como “subversivo perigoso”.

A comissão de fascistas voltou para Roma e fez um relatório sobre Fontamara: “Com jeitinho e óleo de rícino, pode ser aproveitad­a”. Quiseram saber a quem o vigário dera o viva. O vigário não foi encontrado, estava na casa de Gina, a prostituta mais famosa de Fontamara. MARCOS LISBOA

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