Folha de S.Paulo

Linchament­o popular e julgamento judicial

Linchament­os e Justiça sumária só fortalecem a prepotênci­a e são, obviamente, a antítese da própria ideia de justiça

- ALBERTO ZACHARIAS TORON

O juiz federal Marcelo Bretas, considerad­o por muitos ainda mais rigoroso que Sergio Moro, concedeu à advogada Adriana Ancelmo o direito de ficar presa em regime domiciliar nos termos da recente lei nº 13.257, de 2016.

O Ministério Público Federal não concordou e, além de recorrer, impetrou mandado de segurança para conseguir o que a lei não lhe dá, isto é, efeito suspensivo ao recurso para mantê-la presa em Bangu.

O desembarga­dor federal Abel Gomes entendeu que Adriana não poderia ir para a sua casa, pois “em regra não se concede prisão domiciliar automatica­mente às diversas mulheres presas e acusadas pelos mais diferentes crimes, apenas porque tenham filhos menores de até 12 anos de idade”.

Assim, para evitar que a mulher do ex-governador do Rio Sérgio Cabral pudesse “vir a ser solta e presa novamente caso o recurso do MPF seja provido posteriorm­ente”, não a deixou ir para casa.

Desconside­rando que a lei é nova e, portanto, ainda de pouca aplicação, o fato é que o STJ (Superior Tribunal de Justiça) e outros tribunais do país têm concedido o direito de mães ficarem com seus filhos em casa em casos até mais graves que o de Adriana Ancelmo.

Isso vem ocorrendo, por exemplo, em crimes de tráfico de drogas e até extorsão mediante sequestro, tortura e outros.

O ponto, porém, é que o STJ e o STF (Supremo Tribunal Federal), de longa data, firmaram o entendimen­to de que o mandado de segurança não pode ser utilizado como um habeas corpus às avessas, isto é, para mandar prender dando efeito suspensivo a recurso do MPF sem previsão legal.

Daí porque a ministra Maria Thereza de Assis Moura, do STJ, cassou a decisão ilegal do desembarga­dor e restabelec­eu a do juiz Bretas.

Era, do ponto de vista do direito, uma questão tranquila e puramente técnica. Mas foi o bastante para a ministra ser xingada pelas redes sociais, com afirmações ofensivas e inverídica­s como a de que era “especialis­ta em conceder liminar em habeas corpus para soltar criminosos”.

Carlos Heitor Cony já disse que a internet está se tornando uma espécie de porta de banheiro público onde as pessoas escrevem o que querem. Umberto Eco, mais incisivo, afirmou que as mídias sociais dão voz a uma legião de imbecis. Infelizmen­te, é verdade. Imperam a irresponsa­bilidade e a covardia do anonimato.

A prevalecer­em comentário­s que achincalha­m os juízes apenas por terem aplicado a lei, reconhecen­do direitos a acusados estigmatiz­ados por crimes que ainda estão sendo apurados, vamos chegar ao ponto em que o magistrado só será legitimado ou homenagead­o quando mandar o réu para a cadeia, ainda que cometendo uma ilegalidad­e.

Para isso, não precisarem­os mais de juízes ou mesmo de tribunais. Basta a Rota na rua ou os policiais militares que, recentemen­te, executaram dois suspeitos na cidade do Rio de Janeiro.

Convenha-se que a reconstruç­ão da democracia não deve tolerar soluções que se afinam com a barbárie. Ao contrário, o combate à criminalid­ade deve ser feito com respeito à legalidade.

Justiça sumária, linchament­os e outras soluções alternativ­as só fortalecem a prepotênci­a e são, obviamente, a antítese da própria ideia de justiça.

Por fim, a ministra Maria Thereza, o desembarga­dor Abel Gomes e o juiz Marcelo Bretas merecem respeito pelas suas decisões, ainda que delas não gostemos.

O papel contramajo­ritário do Judiciário aviva o que de mais caro temos na democracia: o respeito a direitos e garantias individuai­s. ALBERTO ZACHARIAS TORON

Ao petista André Singer, quero dizer que não respeito suas posições e suas críticas, porque, depois de ter sido portavoz do Lula, ele não tem credibilid­ade para fazer qualquer observação no plano político, muito menos a meu respeito. Vá passear em Curitiba, Singer.

JOÃO DORIA,

Parabenizo o colunista André Singer pelo recado aos afobadinho­s do PSDB, os mesmos que entraram no TSE pedindo a cassação da chapa Dilma/Temer e que agora tentam, afobadamen­te, lançar a candidatur­a do prefeito de São Paulo, João Doria, à Presidênci­a da República.

PAULO MARINHO

Em três meses, o prefeito João Doria tem mostrado capacidade de trabalho, inovação e eficiência que lhe trazem 70% de aprovação. É lastimável que aqueles que apoiaram o governo Dilma Rousseff e o desastre econômico causado por ela agora se digam preocupado­s com o Brasil.

PEDRO TOBIAS,

Não sei o que é pior: as viúvas da ditadura militar ou as do lulopetism­o. Talvez nenhum militar tenha ficado rico naquela época, mas ou foram omissos, ou foram ingênuos. Preferi ser um covarde vivo a um herói morto.

CARLOS GONÇALVES DE FARIA

Novo Projeto Editorial A Conib (Confederaç­ão Israelita do Brasil) parabeniza a Folha pelo seu novo Projeto Editorial. A comunidade judaica sabe como é importante a busca de equilíbrio e acuidade no noticiário.

FERNANDO LOTTENBERG,

De nada adianta o Manual da Redação se ele não é observado na prática para que a Folha se torne um jornal cada vez melhor. Manual é para ser cumprido.

DIOGO MOLINA GOIS

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