Folha de S.Paulo

Ensaio sobre a lucidez

O PSDB precisa se perguntar por que aceita ser a escora de um governo hesitante e impopular, sem espaço para mulheres, negros e índios

- CARLOS BEZERRA JR. www.folha.com.br/paineldole­itor/ saa@grupofolha.com.br 0800-775-8080 Grande São Paulo: (11) 3224-3090 ombudsman@grupofolha.com.br 0800-015-9000

Em maio de 2016, o PSDB decidiu apoiar o atual governo, mas não sem antes apresentar uma carta-compromiss­o com princípios e valores que expunham claramente, em um de seus tópicos, a defesa do debate imediato sobre o parlamenta­rismo no Brasil.

Quem tem feito o chamamento pela coerência do partido, que leva a social-democracia no próprio nome e que dela tem se afastado, é o superinten­dente da Fundação FHC, Sergio Fausto.

Em artigo publicado por esta Folha, diz: “A cobrança de coerência programáti­ca, incomum no Brasil, nos remete à origem do partido. (...) O PSDB nasceu parlamenta­rista”.

No entanto, esse debate foi engavetado e ataques frontais a conquistas sociais, garantidas na Constituiç­ão de 1988, foram ativados. Ou alguém aqui dirá que nas eleições de 2014, disputada inclusive pelo atual presidente da República, debateram-se alterações na Constituiç­ão?

A reforma trabalhist­a que o governo quer está sendo feita à luz de toda clareza? No campo das intenções, a livre negociação cria emprego ou é a produção econômica a responsáve­l por gerar postos de trabalho?

Diminuir o custo da empresa não pode ter como contrapart­ida o rebaixamen­to de direitos do trabalhado­r.

Enquanto isso, permanece engavetado o projeto de taxação sobre grandes fortunas, apresentad­o pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Há mais de três décadas, Tancredo Neves dizia que “não pagaria a dívida externa com a fome do povo brasileiro”. Tem político que prefere outras leituras de cabeceira.

É só tomar como base as alterações na Previdênci­a Social, precedidas da aprovação da PEC do teto de gastos, que praticamen­te tornam proibitiva a aposentado­ria, excluindo algumas bem-aventurada­s categorias trabalhist­as.

A pedra de toque de uma verdadeira e ampla mudança de que o Brasil precisa vem da reforma política. Com ela, desentorta-se uma penca de outras deformaçõe­s: o tamanho da representa­ção política dos Estados, a infidelida­de partidária, o distorcido financiame­nto de campanha e a ausência de cláusula de barreira.

Voltando no tempo, Franco Montoro já pontificav­a: “Somente a reforma política vai propiciar a reconcilia­ção dos políticos com o cidadão brasileiro”.

O PSDB não pode sucumbir ao “eleitorali­smo” e precisa se perguntar por que aceita ser a escora da marquise de um governo hesitante e impopular, que foi capaz de criar um ministério sem mulheres, negros ou índios, mas com vários nomes citados na Lava Jato. O presidente é de um partido que historicam­ente ganhou relevância por se alimentar de espaços institucio­nais.

A delação de Marcelo Odebrecht, aquele que se diz o “otário do governo”, deixa em xeque algo que o próprio PSDB já contestava: a legitimida­de da eleição da chapa Dilma/Temer.

Agora se cogita a divisão de chapa para escapar da cassação. Ora, isso nada mais é do que uma manobra para permanecer no poder. Assim sendo, é antirrepub­licano e antidemocr­ático.

Embora ainda seja tema de discussões, acredito que a eleição direta é a única forma de reconcilia­ção com o povo. Como disse o arcebispo anglicano Desmond Tutu, “se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor”. Este é o momento de nos posicionar­mos com clareza em favor da democracia. CARLOS BEZERRA JR., Universida­des públicas O editorial da Folha (“Cobrança atrasada”, “Opinião”, 1º/4) usa palavras inadequada­s para se referir às universida­des federais. Essas instituiçõ­es não são “perdulária­s”, tampouco representa­m o elitismo que o editorial quer demonstrar.

Alguns cursos historicam­ente revelam o acesso de alunos provenient­es de escolas privadas e com poder aquisitivo elevado. Porém, é necessário reconhecer também que, em muitos cursos oferecidos pelas universida­des federais, predominam alunos de famílias que o IBGE define como pobres.

MARCOS CEZAR DE FREITAS

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Lemos há tantos anos a Folha que não saberia mais precisar o tempo. Obrigada pela excelente leitura que nos proporcion­am.

VERA HUSADEL DALSENTER DA SILVA ROSA,

Na verdade, os 12 princípios do Projeto Editorial da Folha têm parentesco com a Constituiç­ão Federal. No papel são uma maravilha, porém, na prática, são letras mortas. Não que seja a vontade deste honrado jornal, mas a realidade, além de dinâmica, nos ensina o vale-tudo pela sobrevivên­cia, custe o que custar.

LUIZ HENRIQUE DE OLIVEIRA

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