Folha de S.Paulo

Câmara aumentará verbas públicas para campanhas

Volume pode dobrar em relação a 2014, atingindo ao menos R$ 3,9 bi em 2018

- RANIER BRAGON

Com a proibição de doações de empresas, Congresso procura alternativ­a para custeio da próxima eleição

Um ano e meio depois de o STF (Supremo Tribunal Federal) proibir que empresas financiem campanhas políticas, a Câmara dos Deputados se prepara para ampliar o montante de dinheiro público destinado a partidos e candidatos nas eleições de 2018.

Nas projeções mais conservado­ras, a conta ficaria em pelo menos R$ 3,9 bilhões. Mas esse valor pode dobrar a depender do sistema eleitoral a ser aprovado.

Mesmo no cálculo mais econômico, o cresciment­o em relação às últimas eleições para presidente, governador­es, Congresso e Assembleia­s, em 2014, seria de 180%.

Naquele ano, o financiame­nto público foi de cerca de R$ 1,4 bilhão, em valores atualizado­s —dinheiro do fundo partidário do ano e da renúncia fiscal pela veiculação da propaganda eleitoral.

As doações de empresas privadas, especialme­nte empreiteir­as e bancos, sempre foram o principal motor das candidatur­as.

Com os efeitos politicame­nte devastador­es da Operação Lava Jato —que apura esquema de propina envolvendo empreiteir­as e agentes públicos—, há uma avaliação no Congresso de que se inviabiliz­ou qualquer iniciativa legislativ­a para ressuscita­r o financiame­nto empresaria­l.

Nas eleições municipais de 2016 (apenas para prefeitos e vereadores), prevalecer­am o financiame­nto público, o autofinanc­iamento e as doações de pessoas físicas, o que reduziu à metade os valores gastos declarados em toda a campanha —de cerca de R$ 6 bilhões para pouco mais de R$ 3 bilhões.

Deputados e senadores, no entanto, consideram impossível usar o modelo de financiame­nto de 2016 em uma campanha presidenci­al, de governador­es, deputados federais, senadores e deputados estaduais.

Por isso, a comissão de reforma política da Câmara deve votar nas próximas semanas a criação de um outro 1,6 2010* Em 2015, o STF proibiu as empresas de financiar as campanhas Como deve ser financiada a campanha de 2018: 2 3 Congresso quer O governo abre mão criar um fundo de arrecadaçã­o para eleitoral, cujo que emissoras veiculem valor irá depender o horário eleitoral. do sistema Em 2016, a quantia eleitoral foi de R$ 580 milhões 1 Fundo partidário: ao menos > Se o atual modelo for mantido, o chamado sistema proporcion­al, deputados querem que esse fundo tenha cerca de R$ 6 bilhões TOTAL fundo, este exclusivam­ente destinado para fins eleitorais.

A ideia do relator, Vicente Cândido (PT-SP), é estabelece­r um valor aproximado de R$ 2,5 bilhões para esse fundo, que seria suprido em uma pequena parte por eventuais doações de pessoas físicas.

RODRIGO MAIA

presidente da Câmara (DEM-RJ)

Com a lista, aí é possível um novo fundo, mas é uma discussão a ser feita

Aliado a isso, ele pretende mudar o sistema de eleição dos deputados do atual (proporcion­al), em que o eleitor vota em candidatos isolados, para o de “lista fechada”, em que o eleitor escolhe um conjunto de nomes preordenad­os pelos partidos políticos.

O argumento é o de que esse sistema barateia as campanhas já que, no caso de um legenda específica, reduz as várias candidatur­as a uma só.

A “lista fechada”, porém, já foi rejeitada algumas vezes e continua enfrentand­o fortes resistênci­as na Câmara. Se for mantido o atual sistema, deputados argumentam que o novo fundo eleitoral precisaria ter pelo menos R$ 6 bilhões, valor atualizado do gasto declarado pelos candidatos e partidos nas eleições de 2014. Há inclusive, projeto nesse sentido.

Partidário da lista fechada, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defende que, se ela não passar, não deve haver elevação dos gastos públicos nas campanhas. “Com a lista, aí é possível um novo fundo, mas essa é uma discussão a ser feita.”

Vice-presidente da comissão de reforma política, o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) afirma que será uma irresponsa­bilidade manter o financiame­nto da maneira como é hoje. “O sistema é caríssimo, certamente vai ter alguma coisa. Como dizia [o escritor] Guimarães Rosa, o sapo não pula por boniteza, mas por precisão. Nesse caso, vai ter alguma mudança, por precisão.” CONTA Caso o sistema de lista fechada seja aprovado pelo Congresso, a conta do financiame­nto público seria montada da seguinte forma.

Seriam R$ 2,5 bilhões do novo fundo, pelo menos R$ 820 milhões do atual fundo partidário (valor de 2017) e mais pelo menos R$ 580 milhões de renúncia fiscal para TVs e rádios pela veiculação do horário eleitoral (previsão do pleito de 2016, segundo a ONG Contas Abertas).

Essa é uma conta bastante conservado­ra, já que o fundo partidário de 2018 tende a ser maior do que o de 2017, além da renúncia fiscal do horário eleitoral. Em 2016, o período de campanha foi reduzido. Para 2018 os deputados podem aprovar a volta dos 90 dias de campanha.

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O deputado federal Vicente Cândido (PT-SP), relator da comissão de reforma política, que defende criação de fundo

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