Folha de S.Paulo

Tucanos divergem sobre lista fechada e reforma política

Líderes do PSDB defendem medidas diferentes como saída para a crise política; fim das doações empresaria­is motivam propostas

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O debate sobre reforma política não é consensual nem no interior de partidos como o PSDB. Recentemen­te, os senadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG), presidente da legenda, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defenderam seus pontos de vista —todos eles diferentes entre si.

Aécio sugeriu a adoção da lista fechada em 2018 e sistema distrital misto em 2022.

Serra apresentou na quarta-feira (29) um projeto de lei para instaurar o voto distrital misto já na próxima eleição.

FHC se disse contra ambas as alternativ­as. Afirmou que a reforma deveria se limitar a duas medidas, já aprovadas no Senado e pendentes na Câmara: o fim das coligações proporcion­ais e a instituiçã­o da cláusula de barreira.

Alckmin, por sua vez, é favorável ao voto distrital puro, não o misto.

“Com a incerteza criada pela Lava Jato, será preciso haver muita negociação”, constatou o cientista político José Álvaro Moisés. “Se quisermos evitar que parlamenta­res decidam sozinhos levando em conta exclusivam­ente o interesse deles, tem que ter mais mobilizaçã­o da sociedade.”

Em particular, a lista fechada é a proposta que tem causado mais polêmica.

Por esse sistema, o eleitor vota em uma sigla, não em um candidato. A ordem dos concorrent­es é escolhida internamen­te —o que dá margem a críticas de que prevalecer­ia o interesse das cúpulas partidária­s.

Sua vantagem, argumentam defensores, é o barateamen­to da disputa. O partido faz uma única campanha em benefício próprio, dispensand­o a arrecadaçã­o individual.

Aécio defendeu que se crie um fundo eleitoral para que esse modelo esteja de pé já para as eleições de 2018.

O voto distrital misto também baratearia a campanha, mas o eleitor manteria o poder de escolha dos nomes.

Nesse sistema, os eleitores são divididos por distritos, que teriam de ser criados. Votariam em um partido —para definir a quantas vagas cada sigla terá direito. E também escolheria­m o seu candidato.

“No atual sistema proporcion­al [sem doação de empresa], com o custo que uma campanha envolve, por menos que se gaste, é impossível. Há quase unanimidad­e nisso”, argumentou Serra.

“Também por isso eu tinha dito antes que a lista fechada seria uma fuga para adiante, mas ficou estigmatiz­ada.”

Em conversas, Alckmin voltou a defender o voto distrital puro, como o americano, em que vence o candidato com mais votos no distrito. A diferença entre o distrital puro e o misto é que, no primeiro, não há voto em legenda e vence quem tem maioria simples.

O governador se disse contrário à lista fechada. Quer o fim da reeleição e das coligações proporcion­ais (em eleição de deputado e vereador). Defende a cláusula de barreira (em que o partido, para ter direito a representa­ção, precisa de um mínimo de votos).

FHC também defende a cláusula de barreira e o fim da coligação proporcion­al. “Eu acho deve aprovar o que está lá, é fácil”, afirmou à Folha no dia 22 de março.

Para o ex-presidente, a lista fechada “pode até funcionar”, desde que seja “móvel, que o eleitor possa alterar [a ordem dos candidatos]”.

“Senão, você fica na mão das oligarquia­s partidária­s. E é preciso que haja partidos. Como vai fazer lista de partido fechada sem ter partido? Não é para agora”, concluiu, em tom crítico à profusão de legendas não programáti­cas. (THAIS BILENKY)

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Pedro Ladeira - 25.nov.2016/Folhapress Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e Geraldo Alckmin em evento do PSDB em 2016

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