Fãs de Moro e Cunha se reúnem em estreia de filme sobre impeachment
Documentário foi feito para deter narrativa de que queda de Dilma foi golpe, diz diretor
DE SÃO PAULO
“A gente seria escorraçada se usasse vermelho hoje?”, indaga na noite de sexta (31) uma convidada. Na estreia de “Impeachment — O Brasil Nas Ruas”, a ojeriza à cor do PT uniu líderes de movimentos como Nas Ruas (Carla Zambelli) e Vem pra Rua (Rogerio Chequer), vedetes do juiz Sergio Moro, um fã de Eduardo Cunha e um Orleans e Bragança.
O documentário é dirigido por dois ex-petistas há anos “convertidos”, Paulo Moura e Beto Souza. Antes da sessão, Paulo explica por que fez o filme à plateia servida de água e balinhas, numa sala da Federação do Comércio do Estado de SP: queria que futuras gerações, ou um estrangeiro agora, entendessem que o impeachment da presidente Dilma Rousseff “foi um rito democrático, não um golpe”.
O público chega atrasado. Alguns estão bravos, pois um protesto de centrais sindicais “vermelhíssimas” travou o trânsito paulistano naquela noite. Enquanto esperam o filme, convidados com malhas de cashmere jogadas nas costas conversam sobre outro adepto da moda, João Doria.
Uma mulher brinca que, se o prefeito virar presidenciável em 2018, como alas do PSDB desejam, anunciaria o artista Romero Britto como ministro da Cultura. Já Ruy Gine, 31, exintegrante do MBL (Movimento Brasil Livre) que anda com um skate acoplado à mochila, sugere dois ministros para uma gestão Doria: o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) na Defesa e o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) na Agricultura.
O que chateou Ruy foi o expresidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), algoz de Dilma no impeachment, ser condenado a 15 anos de prisão por Sergio Moro. “Por que prenderam nosso herói? Antes do líder da quadrilha?”, em referência ao ex-presidente Lula, também réu na Lava Jato.
Cunha aparece nos primeiros minutos do filme, abrindo a sessão que selou na Câmara a destituição de Dilma. A obra não menciona desdobramentos da política brasileira, como a debacle de Cunha e a presença de ministros do governo Michel Temer na Lava Jato. Autor do livro “PT: Comunismo ou Socialdemocracia?” e agora diretor de cinema, Moura reconhece que essas informações poderiam vir nos créditos finais. Mas diz que a narrativa de “Impeachment”, que só dá voz para figuras simpáticas ao antipetismo, foi “escolha deliberada”.
Descendente da família real e líder do movimento Acorda Brasil, Luiz Philippe de Orleans e Bragança não gostava de Dilma e tampouco aprova Temer, “que não deveria estar na Presidência”, diz à Folha. Ainda não sabe o que pensar das eleições de 2018, mas pede cautela a entusiasmados com uma eventual chapa Doria. “Tenho orientado o pessoal a não se empolgar muito, tem muito marketing ali.” ‘VAI PRA CUBA’ Para o documentário, os diretores abriram financiamento coletivo de R$ 60 mil (faltam R$ 22,7 mil). Moura diz que negocia a exibição com Netflix e plataformas afins.
A plateia vaia e grita “vai pra Cuba!” quando a tela mostra petistas. Aplaude a aparição do juiz Moro e de Janaína Paschoal e Hélio Bicudo, coautores do pedido de impeachment. Bate na mesa e canta junto um hino da La Banda Loka Liberal: “Chora petista/ Bolivariano/ A roubalheira do PT tá acabando”.
O especialista em redes Augusto de Franco faz sucesso ao declarar que manifestantes anti-Dilma “não ganham sanduíche de mortadela nem garrafa de tubaína” para ir às ruas.
Outro, também associado ao pensamento de direita, não fez falta, diz uma espectadora. Reinaldo Azevedo teria se “avermelhado” por colunas como a de 17 de março “A Esquerda Ganha com a Pregação da Direita Xucra” (folha.com/no1867270).