Folha de S.Paulo

Polícia mata um após protesto no Paraguai

Líder da Juventude Liberal, de 25 anos, levou um tiro na cabeça em invasão dos agentes

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A morte de um opositor pelas mãos da polícia aumentou neste sábado (1º) a tensão no Paraguai após realização de protestos e confrontos entre manifestan­tes e a polícia.

Pelo menos 30 pessoas ficaram feridas e mais de 200 foram detidas na manifestaç­ão contra uma emenda constituci­onal que busca permitir a reeleição presidenci­al.

Sob pressão, o presidente Horacio Cartes demitiu o ministro do Interior, Tadeo Rojas, e o comandante da Polícia, Críspulo Sotelo.

Na sexta manifestan­tes causaram danos ao Congresso, derrubaram grades, quebraram janelas e atearam fogo em partes do edifício.

O presidente da Juventude Liberal, Rodrigo Quintana, 25 anos, morreu após levar um tiro na cabeça depois da violenta entrada da polícia na sede desse grupo político durante a madrugada.

Em comunicado antes da demissão de Rojas, o Ministério do Interior disse que as autoridade­s “investigam as circunstân­cias da morte, supostamen­te pelas mãos de um efetivo da Polícia Nacional”.

Um vídeo gravado por uma câmera de segurança e divulgado pela imprensa paraguaia mostra claramente o momento em que a polícia entra no prédio, é feito um disparo, e Quintana cai. Em seguida um policial se aproxima e pisa rapidament­e no seu corpo no chão.

“Vamos esclarecer totalmente o ocorrido, e os responsáve­is serão colocados à disposição da Justiça”, disse o Ministério do Interior.

Além de Quintana, dezenas de pessoas ficaram feridas por balas de borracha, incluindo o próprio presidente do Congresso, o opositor Roberto Acevedo, além do titular do Partido Liberal, Efraín Alegre, e do deputado liberal Edgar Acosta, atingido na boca por um projétil.

Enquanto isso, 211 pessoas foram detidas, entre elas menores de idade, que ficaram alojados na sede do Agrupament­o Especializ­ado da Polícia Nacional, segundo uma fonte policial.

O sábado amanheceu mais calmo, com centenas de policiais ao redor do edifício legislativ­o, enquanto militares reforçaram a guarda no Palácio do governo, a duas quadras de distância. POLÍTICA O governo paraguaio busca abrir as portas para a reeleição, mas a oposição rejeita essa ideia e quer que seja mantido um único mandato presidenci­al, como determina a Constituiç­ão de 1992.

A um ano da eleição presidenci­al, a reforma permitiria que o atual presidente conservado­r, Horacio Cartes, no poder desde 2013, se candidatas­se a um novo mandato, assim como o expresiden­te de esquerda Fernando Lugo, ex-bispo católico destituído.

Uma maioria de 25 senadores, de um total de 45, aprovou na sexta a emenda constituci­onal, e, neste sábado, o mesmo deveria ser ratificado pela Câmara dos Deputados, mas a sessão foi suspensa após as confusões.

A votação foi realizada em um gabinete do Senado, pois o salão plenário estava ocupado por senadores do opositor Partido Liberal.

Sob gritos de “ditadura nunca mais”, centenas de opositores entraram no edifício legislativ­o após a destruição de portões, grades e janelas, e provocaram um incêndio no local.

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Norberto Duarte/AFP Local onde Rodrigo Quintana foi morto a tiros pela polícia

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