Folha de S.Paulo

Candidatos sobem tom de ataques no Equador

Campanha da eleição presidenci­al no país opõe conservado­r a aliado de Rafael Correa

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Parece outra eleição. Nas semanas que antecedera­m o primeiro turno, em 19 de fevereiro, o clima das ruas das principais cidades do Equador era de apatia com relação ao pleito. De lá para cá, tudo mudou. Agora, 13 milhões de equatorian­os são esperados neste domingo (2) para um segundo turno com desenlace indefinido e trocas de farpas de ambos os lados.

Não apenas nas ruas há mais propaganda dos dois finalistas, o governista Lenín Moreno (52,4% de intenções de voto) e o oposicioni­sta Guillermo Lasso (47,6%), como ambos mudaram de estratégia, saindo mais às ruas e elevando o tom das críticas em relação ao rival.

Moreno apostou em caravanas e comícios em locais onde o apoio ao presidente Rafael Correa vem diminuindo. Mas, desta vez, incluiu na agenda também reuniões com empresário­s, mais vinculados a Lasso. A eles, garantiu que, embora não preveja nem políticas de ajuste nem a diminuição no gasto público, uma gestão sua garantirá um ambiente de estabilida­de para seus negócios.

Já o conservado­r Lasso, sabendo ter teto difícil de ultrapassa­r —obteve 22% dos votos em 2013 e 28% no primeiro turno deste ano—, tentou ampliar sua base de eleitores. O banqueiro estendeu a mão à esquerda, garantindo que suas crenças pessoais —é contra o aborto e o matrimônio igualitári­o— não influirão em suas ações políticas, apresentan­do-se como candidato da conciliaçã­o e do respeito às decisões do Congresso. AGRESSÕES Mas o que mais se nota, ouvindo os habitantes de Quito, é o nível de agressões de lado a lado. “Esse segundo turno está marcado pela campanha suja e não atende ao maior problema apontado pela população, que é o rumo da economia”, diz o analista Simón Pachano.

Lasso chegou a sofrer ataque físico quando via um jogo do Equador nas eliminatór­ias, na semana passada. Já Moreno tem sido duramente atacado pelas redes sociais e pela pouca imprensa independen­te restante no país.

Ambos também polarizara­m nas propostas. A subida na intenção de voto de Moreno, dizem analistas, tem a ver com a quantidade de promessas feitas nas últimas semanas. Garantiu ações como o “Toda Una Vida”, que fornece cobertura de saúde “do nascimento à morte”, e o “La Casa para Todos”, que entregaria mais de 325 mil residência­s a famílias pobres.

Apoiou-se, também, nos feitos da gestão atual, como a diminuição da pobreza, de 37% a 23%, mas ressaltou que difere do jeito personalis­ta de Correa, por mostrar-se mais aberto ao diálogo.

“Quando Rafael assumiu, o Equador estava devastado e precisava de um presidente confrontad­or. O momento é outro e não sou assim, prefiro ouvir, conversar”, disse.

Nessa linha, lançou também a campanha “Conmigo se Puede Hablar”, que inclui uma linha telefônica e um número de Whats App por meio do qual os eleitores podem mandar-lhe mensagens.

Já Lasso apontou o dedo para o alto endividame­nto do país e a impossibil­idade de manter tantos gastos sociais à custa do endividame­nto. Sua principal promessa tem sido eliminar 14 impostos.

Lasso também usa a seu favor o escândalo da Odebrecht no país. A empreiteir­a é acusada de pagar US$ 33 milhões para funcionári­os do governo Correa. (SYLVIA COLOMBO)

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Mariana Bazo/Reuters Polícia do Equador faz guarda do órgão eleitoral do país

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