Folha de S.Paulo

CATITO NA RODA

Oriundo do setor naval, empresário Omar Peres, que tentou comprar o “Jornal do Brasil”, se reinventou ao adquirir símbolos da noite carioca

- FABIO VICTOR

Cercado por ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal, caciques de diversos partidos políticos e jornalista­s, o empresário Omar Peres, 59, empunhou o microfone e teve ali, às 23h de uma terça-feira de fim de verão em Brasília, um aperitivo do poder que tentou conquistar em quatro candidatur­as eleitorais, todas derrotadas.

Mineiro de Leopoldina que mudou-se aos cinco anos para o Rio e se considera carioca, Peres, ou Catito, como é conhecido, estava fora de sua praia, mas o deslocamen­to foi compensado pelo prazer de ser o anfitrião da noite: tendo recém-adquirido o restaurant­e Piantella, ponto de encontro de autoridade­s dos três Poderes na capital, ofereceu um jantar para comemorar os 50 anos de jornalismo de Ricardo Noblat, colunista e blogueiro de “O Globo”.

Catito estava esfuziante. Pela casa passaram naquela noite o presidente Michel Temer (PMDB), ministros como Mendonça Filho (Educação, DEM), tucanos como os senadores Aécio Neves e José Serra e esquerdist­as como o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

Um dos três ministros do STF presentes —Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso foram os outros—, Marco Aurélio Mello conheceu o empresário na festa e simpatizou de cara. “Ele chamou a minha atenção porque é um homem que preserva valores sedimentad­os. Isso é muito importante num país que não tem memória”, disse à Folha.

O ministro se referia à faceta atualmente mais célebre de Peres, a de investir em, aspas dele, “símbolos da cultura carioca”. É proprietár­io dos tradiciona­is La Fiorentina e Bar Lagoa e vai reabrir em breve, em sociedade com Ricardo Amaral, a boate Hippopotam­us, um clássico da noite carioca entre os anos 1970 e 1990 —fechou em 2001.

A dupla, diz Peres, investiu US$ 8 milhões na casa. No novo Hippo (no masculino porque foi e voltará a ser um clube, em que só entram sócios e seus convidados), a anuidade vai custar R$ 6.000.

Outro avanço sobre um “símbolo” causou um rebuliço no meio jornalísti­co: em fevereiro, Peres anunciou ter adquirido, do empresário Nelson Tanure, os direitos de exploração da marca “Jornal do Brasil”. Disse que o diário —que ditou rumos no país entre os anos 1950 e 1980 e hoje se restringe a um site sem influência nem repercussã­o— voltaria a circular em papel e listou até nome da equipe que integraria a nova Redação.

Mas a negociação desandou, por oposição do empresário Pedro Grossi, que administra o “JB” para Tanure. Catito diz que continua interessad­o no negócio, alheio ao fato de que Tanure tem dado o caso por encerrado.

O revés do “JB” mancha a reputação que Peres fixou nos últimos tempos nas altas rodas cariocas, de empresário versátil, capaz de se reinventar como homem da noite após enriquecer recuperand­o empresas quebradas, especialme­nte no setor naval.

Mas não surpreende quem conhece sua longa biografia empresaria­l, que alia jogadas Peres (dir.) com Temer e Gilmar Mendes (esq.) no Piantella CIDADE

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Ricardo Borges/Folhapress Omar ‘Catito’ Peres na obra da boate Hippopotam­us

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