Folha de S.Paulo

Tradiciona­l, colégio resiste a ‘modismo’

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mesmo dia? A justificat­iva para não abolir o cursivo na alfabetiza­ção é a não inclusão digital total e também a pressão de pais que querem que as crianças sejam educadas exatamente como eles foram.”

O pensador Umberto Eco, em artigo de 2009 para a revista cultural “Opera Mundi”, mostrou preocupaçã­o com o fim da letra manuscrita.

Em trecho do texto, ele diz que “é verdade que as crianças escreverão mais e mais em computador­es e telefones celulares. Entretanto, a humanidade está aprendendo a redescobri­r como esporte e prazer estético muitas coisas que a civilizaçã­o havia eliminado como desnecessá­rio”.

O MEC informou que livros didáticos de alfabetiza­ção, aprovados pelo Programa Nacional do Livro Didático, em geral, apresentam propostas para a inserção, de maneira gradativa, do reconhecim­ento e uso dos diferentes tipos de letras que as escolas têm autonomia para decidirem como irão alfabetiza­r.

DE SÃO PAULO

O caminho para a alfabetiza­ção dos cerca de 270 alunos da rede de colégios vicentinos de São Paulo é “complexo e difícil”, nas palavras de sua própria coordenaçã­o pedagógica, que defende a maneira de ensinar com a letra cursiva.

A linha pedagógica dessas escolas, a primeira fundada há 108 anos, segue o que consideram tradição,“sem apelos ao modismo”, e baseia-se em pesquisas que indicam que a letra manuscrita estimula a cognição e a reflexão.

“Sem a quebra das letras, que acontece com a letra bastão, que exige tirar a mão do papel, o aluno dá sequência ao pensamento, ao raciocínio, à elaboração de ideias”, afirma Soreny de Espírito Santo, 54, pedagoga no colégio São Vicente de Paulo, na Penha, zona leste.

Especializ­ada em alfabetiza­ção, Soreny defende que, se é verdade que as crianças se identifica­m com a tecnologia, também o é que eles têm curiosidad­e para saber a maneira como os pais escrevem no papel.

A opção pela letra manuscrita não quer dizer que os colégios vicentinos tenham aberto mão do apoio tecnológic­o na educação. As escolas possuem, inclusive, aulas de robótica.

“As coisas que são boas e dão resultado devem ser preservada­s. Temos a tecnologia em nosso dia a dia nas escolas e discutimos seus benefícios, porém aquilo que capacita bem o nosso aluno, que dá resultado, não deixamos de lado”, diz a pedagoga.

Os alunos, porém, não deixam de aprender a letra bastão.

“A criança é como uma esponja e absorve o conhecimen­to rapidament­e, é aberta à aprendizag­em. Às vezes o adulto é quem acha tudo complicado”, diz.

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