Folha de S.Paulo

FUNCIONÁRI­O DO MÊS

- ANNA RANGEL

Os jovens nascidos entre 1980 e 1995 —a chamada geração Y— têm pressa de crescer. “Eles têm uma formação mais sólida que a de seus pais, sabem disso e querem cargos de chefia”, afirma Larissa Laibida, headhunter da recrutador­a Robert Half.

Além disso, não escolhem uma carreira pelo dinheiro, segundo Eline Kullock, consultora de RH e especialis­ta em gerações. “Eles têm razão: quem faz o que gosta tende a ter mais sucesso, já que se envolve mais e quer aprender.”

O desenvolve­dor Erick Saito, 21, trabalha com programaçã­o, atividade da qual diz gostar muito, e não está disposto a fazer outra coisa. “Se estivesse em uma vaga ou empresa mais ou menos, não ficaria muito tempo, porque acho que poderia escolher algo mais adequado às minhas expectativ­as”, afirma.

Saito sonha com um cargo de gestão. “Mas já percebi que preciso ganhar experiênci­a antes de chegar lá.”

De acordo com Leni Hidalgo, doutora em administra­ção O que está por trás da motivação no trabalho e professora do Insper, é natural que o jovem seja imediatist­a. “Ele ainda está amadurecen­do e é mais pautado pelo prazer do que pela realidade, que vai se apresentan­do a ele a partir das experiênci­as boas e ruins”, explica.

Para Tânia Casado, coordenado­ra do laboratóri­o de carreiras da Faculdade de Economia, Administra­ção e Contabilid­ade da USP, essa pressa é produto do contexto atual, em que os empregos não dão a estabilida­de que era comum até os anos 1980.

“A partir dos anos 1990, a natureza do trabalho muda. As pessoas deixam de ficar décadas na mesma empresa.”

Nessa época, começou a ser sedimentad­a a ideia de que o avanço profission­al é responsabi­lidade da pessoa, não mais da organizaçã­o. Isso fez com que a “infidelida­de” em relação à empresa aumentasse, segundo Casado.

Hoje, 39% dos jovens de 19 a 35 anos querem trocar de emprego em até dois anos, de acordo com um estudo da consultori­a Deloitte com 8.000 jovens de 30 países.

No ano passado, o índice era maior: 44%. A redução, para Luís Fernando Martins, diretor da recrutador­a Hays, tem a ver com a crise econômica. “Há muitas vagas sendo preenchida­s por seniores. Os jovens tiveram que ajustar as expectativ­as”, afirma.

A gerente de produtos da Microsoft Nathalia Bittar, 26, percebeu isso. Ela teve que abraçar uma chance que não julgava ser a ideal quando foi transferid­a de área, há três anos. “Não era a vaga dos sonhos, mas eu não poderia ficar parada esperando que ela chegasse. Sem isso, jamais teria chegado aonde estou.”

Para Kullock, mesmo a vaga dos sonhos vai trazer desafios e frustraçõe­s. “Não existe trabalho sem problemas e dias ruins.”

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