Folha de S.Paulo

Temer assume a articulaçã­o

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BRASÍLIA - O presidente Michel Temer nega recuo ao aceitar mudanças na reforma da Previdênci­a e minimiza a discussão sobre a fragilidad­e de sua base de apoio, aparenteme­nte não tão sólida como na aprovação da PEC do teto de gastos.

Não há outro discurso para Temer após a principal reforma de seu governo entrar na reta final na Câmara. Mas não há também como esconder os sinais de turbulênci­a na articulaçã­o política do Planalto.

Nas palavras de um assessor próximo do presidente, o “articulado­r hoje do governo se chama Michel Temer”. Não à toa ele tomou a rédea na semana passada na reunião com o relator do texto da proposta, o deputado Arthur Oliveira Maia.

Os dois principais negociador­es do Planalto com o Congresso estavam à mesa: os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo).

Padilha, além dos problemas de saúde que o abalaram, é um ferido de guerra pelos torpedos que já levou da Lava Jato. O tucano Imbassahy dialoga com o alto clero, sobretudo dentro do PSDB, mas tem pouca interlocuç­ão entre os demais partidos de sustentaçã­o do governo.

É nítida a falta que Temer sente de Geddel Vieira Lima, hábil negociador e contador de votos no Congresso —a queda dele do ministério, após o escândalo do prédio de Salvador, se reflete agora em uma negociação política fundamenta­l.

Na entrevista dada à Folha na sexta (7), Temer disse que sua atuação corpo a corpo “não significa enfraqueci­mento” da articulaçã­o.

Em uma declaração polêmica e facilmente contestáve­l, ele disse que não cometeu erros em 11 meses de governo. “Eu cometi acertos.”

Temer tem razão quando diz ser precipitad­a a projeção de placar, afinal o jogo começa para valer após a votação na comissão. Ele, porém, sabe que a falta de diálogo pode compromete­r a reforma e o sucesso de sua gestão. Será um erro inquestion­ável e tardio para ser corrigido.

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