Folha de S.Paulo

O rentismo dos alvarás

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SÃO PAULO - Taxistas festejaram a aprovação pela Câmara dos Deputados da emenda que obriga os municípios a conceder licenças individuai­s a quem queira trabalhar nos sistemas privados de transporte urbano baseados em aplicativo­s.

Uma minoria da classe, com frequência fora da atividade extenuante de atender passageiro­s, tem motivo para júbilo.

O mecanismo dos alvarás impõe uma barreira à entrada de novos participan­tes no serviço. Com excesso de procura por viagens em relação ao volume limitado oferecido pelos carros, estimula-se aumento na jornada dos habilitado­s e nas tarifas.

A lucrativid­ade atrai novos atores. Em regime livre, a competição se daria diretament­e pelo passageiro. No modelo restrito, disputam-se os alvarás existentes, cujo preço dispara, pouco importando se é legal ou clandestin­o o mercado de licenças.

No final do jogo, todo o lucro do negócio acaba transferid­o a um pequeno grupo de detentores de alva- rás —pessoas que vieram adquirindo autorizaçõ­es de terceiros— à custa de consumidor­es e motoristas.

O que um taxista paga a seu senhor feudal para poder operar equivale ao que recebe na atividade de transporta­r pessoas, descontado­s seu próprio salário e os outros custos. Seu lucro tende a zero. Deixam de ser feitas viagens que num regime aberto ocorreriam. A eficiência cai.

Os aplicativo­s ajudam a reverter o quadro. Devolvem parte do excedente absorvido pelos rentistas dos alvarás para consumidor­es e novos competidor­es. Aumentam o volume de serviços prestados e constrange­m todos a reduzir custos. Tornam-se fonte de elevação de receitas tributária­s.

Em Nova York, um alvará de táxi fora negociado por US$ 1,3 milhão em 2013. No mês passado, registrous­e transação por menos de 1/5 daquela quantia. Eis uma medida de bemestar coletivo. Quanto mais desvaloriz­ado estiver o alvará, melhor estará o conjunto da sociedade. vinicius.mota@grupofolha.com.br

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